Por um punhado de chances
Volto no tempo, dou vários plays e leio uma mesma coisa. E trago novidades. E faço homenagem
Uma das inconsistências de se seguir ativo em uma longa vida digital é que mesmo sabendo que as coisas se repetem, você insiste em fingir costume alegando novidade. Acontece comigo o tempo todo, principalmente ao manter essa pinta de curador de conteúdo, como já disse aqui no texto de abertura de meu site pessoal. Pronto, mais uma vez, site pessoal.
Quem ainda tem site pessoal? Eu e toda uma galera que, ou está aí há muito tempo, ou chegou agora achando novo o que já fazíamos deste a época do Blogspot. E do Feedburner. E do Bloglines. E do Por um Punhado de Pixels, um dos primeiros blogs do país e o segundo que acompanhei com alguma frequência antes de tudo isso que está aí.
Em uma época em que a internet ainda era uma novidade no Brasil, o visionário Nemo Nox já compartilhava suas ideias e paixões através de blogs. Seu projeto, "PPP", foi um dos pioneiros da blogosfera brasileira, marcando uma geração de internautas.
Iniciado em 2001, o espaço acompanhou o autor por uma década. Durante esse período, se tornou um ponto de referência para quem buscava informações sobre cultura, tecnologia e as mais diversas curiosidades, ganhando até mesmo alguns prêmios. E fez isso diariamente como um diário em ordem cronológica reversa e com entradas sobre suas leituras.
Nota do tradutor geracional: “Entradas” era como a gente chamava os posts, que não eram em vídeo, aliás.
A paixão de Nemo Nox pela criação de conteúdo transbordava para além de um único projeto. Além do "Por um Punhado de Pixels", ele deu vida a outros blogs como "Burburinho" (fora do ar) e "A Casa das Mil Portas", cada um com sua própria identidade. Na esteira veio ainda o "Pictoblog" que já flertava com novas formas de expressão, como a linguagem visual, claro, antes do Instagram.
O fato é que costurando esta edição aqui, a curiosidade me pegou e fui revisitar estes links todos e…ao acessar o “A Casa das Mil Portas” me deparei com… uma colaboração minha. Que eu havia esquecido!
Mas, sabe como é, uma das inconsistências de se seguir ativo em uma longa vida digital é que mesmo sabendo que as coisas se repetem, você insiste em fingir costume alegando novidade. Só não esperava que isso seria possível falando de mim mesmo.
Quantas outras vidas posso ter esquecido por aí?
Fica a questão.
O fato é que não lembrar da colaboração que, muito provavelmente, mexeu comigo na época - que dava meus primeiros passos como produtor de conteúdo - , mexeu comigo agora também.
E, assim, por motivos totalmente diferentes, passei um final de semana cumprindo certa promessa: guardar o smartphone na gaveta mais inacessível da casa e viver a vida um tanto quanto desconectado. E me entreguei a uma rotina mais NemoNoxiana possível.
É ela que transcrevo agora.
(dica: todo # é um link especial)
O projeto mauroamaral.com nasce a partir da certeza de que o futuro de conteúdo bem feito, pode ser traduzido em dois conceitos: curadoria e canais de contato direto. A sua newsletter é uma das melhores versões desta união. Mas temos outras: um canal no Instagram, uma comunidade no WhatsApp e ainda o Telegram e o Discord.
domingo, 20 de outubro de 2024
[ 21:00 ]
Smartphone ainda adormecido, abro o melhor gadget que já foi inventado porque simples, direto e resiliente, o Kindle. Começo a leitura de alguns artigos de negócios, outros de futurologia e olho novamente para o progresso em “O cão dos Baskervilles”, e retorno para a Inglaterra Vitoriana. Afinal, uma das inconsistências de se seguir ativo em uma longa vida digital é que mesmo sabendo que as coisas se repetem, você insiste em fingir costume alegando novidade. #
[ 16:00 ]
Coloco à prova Vanila Sky (Cameron Crowe, 2001), filme que já foi sensação por lidar com a possibilidade de todos estarmos em uma simulação, o que acredito de forma resignada como um Porquinho da Índia na beira de um precipício.
Nele, vemos David Aames (Tom Cruise) viver em um loop de fracassos de pobre menino rico até começar a ver a realidade se desmanchar como seu rosto desfigurado por um acidente do qual não se lembra. Tudo muda quando, bem, começa a acordar. Penso em acordar também, e decido encerrar o final de semana com mais alguma leitura. #
[ 11:00 ]
Estou agora navegando pelas facilidades de uma IPTV quando me deparo na pasta de filmes Cult com As sete faces do Dr. Lao (George Pal, 1964). Estava chovendo o que me fez embarcar no melhor clima de Sessão da Tarde anos 80 em um Rio de Janeiro em que usávamos fichas para falar no telefone público, e revejo na íntegra. O filme é da década de 60 e além daquela estética de filme em película, temos efeitos de stop motion, maquiagem tosca e dublagem que oculta toda a banda sonora de som ambiente. É divertido porque me faz parar de pensar, coisa que tenho curtido fazer de quando em vez, mas não agora. #
sábado, 19 de outubro de 2024
[ 18:00 ]
Segundo play do dia vai para Longlegs (Oz Perkins, 2024). Sei lá por que - desconfio porque outubro - fiz as pazes com o mundo sombrio este final de semana. Não sei se porque vi picadinho aqui e ali (sem trocadilhos, por favor), não consegui alcançar o hype de “filme mais tenebroso dos últimos anos”. Não que seja ruim, apenas não me tirou o sono como um Hereditário, por exemplo. Na trama somos side-kick da “Special Agent” Lee Hacker que em seu primeiro caso no FBI mostra-se quase sobrenatural a conseguir perseguir e encarcerar o Serial Killer, para descobrir uma estranha conexão com o caso. Ganha pontos por nos lembrar que sempre somos nós, os ditos normais, mais estranhos do que a ficção e que o sombrio e fora do comum está logo ali, escondido pelo véu do cotidiano. #
[ 15:00 ]
Vejo o A Substância (Coralie Fargeat, 2024), filme sensação do ano que é daqueles conectados com certa estética Gore e - termo que descobri agora - Body Horror. Se você estava em uma casinha de Hobbit nas últimas semanas, além de minha admiração, fica aí a ajuda com a sinopse.
O filme de terror e ficção científica explora temas como obsessão pela juventude, corpo e identidade. A trama nos conta sobre Elisabeth Sparkle (Demi Moore), uma ex-estrela de um programa de aeróbica que, aos 50 anos, enfrenta uma crise existencial após ser demitida.
Em busca de uma nova chance, Elisabeth se envolve em um experimento que promete rejuvenescê-la através de uma substância experimental. No entanto, a substância desencadeia uma série de transformações inesperadas e perturbadoras em seu corpo e mente. A principal delas, o surgimento de Sue, sua contraparte mais jovem. Margaret Qualley dá vida a esse outro eu e a outras coisinhas mais, ela que chama atenção pois lindinha desde Left Overs, a melhor série que ninguém viu. Um filme fodão até o segundo ato e creepy pasta no terceiro, que não curti. #
[ 07:00 ]
Começo o dia dando sequência a uma leitura de conforto, as obras completas de Sherlock Holmes. Reflito alguns dias depois, que o que me distrai nem são as tramas, que já se cristalizaram no inconsciente coletivo e deram origem ao Scooby Doo (essa é outra história, qualquer dia conto), mas pela sucessão de rituais e contratos sociais que são exibidos em cada conto ou livro: enviar um cartão de visita pela Governanta da Baker Street antes de ser recebido, certo diálogo entre as formas de comunicação da época; como enviar telegramas como forma de saber se a pessoa está em casa no momento x ou y; buscar pistas cifradas no Times do dia tal; ir ao posto de mensageiros perguntar sobre fulano ou cicrano… e tantas outras. As obras de Sir Árthur Conan Doyle nos convidam a esse passeio. #
sexta-feira, 18 de outubro de 2024
[23:00]
Fecho a última hora do dia relendo materiais de um projeto que comecei a encarar agora, ainda que já tenha tantos. A Speculative Odissey é um Grupo de Estudo que se faz uma pergunta central: “Que futuros podemos imaginar quando o trabalho não mais traduzir a nossa existência”. Ou, de forma mais direta: como será a revolução dos inúteis que seremos depois das máquinas assumirem o controle da vida econômica mundial?
A sessão-aula-inaugural havia sido na quarta feira anterior e ainda costurávamos nossos pensamentos iniciais. No tempo que você recebe essa edição da newsletter aqui do projeto mauroamaral.com, estarei me preparando para o segundo encontro, que acontece muito cedo, pois projeto é baseado em Lisboa. Trago mais notícias em breve. #
E assim fechamos, mas não antes sem testar o seu engajamento até aqui e fazer um convite. Topa colaborar com a sua opinião sobre este projeto aqui? Estou rodando esta micro-pesquisa desde setembro, com baixas adesões, menos de 1%… Clica aí!