[sem imagem de abertura nesta edição, eu me enxerguei .txt hoje]
Acordo às 6h da manhã o que não é de maneira alguma atestado de pontualidade. Antes disso: de coincidências. Sento na cama como o reverso de um daqueles filmes onde vemos uma estátua de ditador do Leste Europeu sendo derrubada: sem qualquer malemolência, apenas uma coluna reta e de espada em punho, #nsfw. Ando até o diminuto banheiro, lavo os dentes, escovo o rosto, percebo a confusão. Refaço os pensamentos e o café da família.
O despertador toca, atrasado.
Olho para o atual latifúndio ancestral que chamo de casa novamente, aro, escovo, varro, molho. E molho, e varro, e respiro. Vírgulas não são o único respiro que utilizo.
Cada gesto resulta prolongado até a última fibra muscular que me é permitida depois que…perdi um dos tendões do ombro direito tentando não rolar de uma escada na correria de uma mudança antes desta que me trouxe até aqui, esta que é uma não-mudança, mas um estado de chácara. E chacras. E escaras. Ainda, assim, espada em punho.
Na verdade, ancinho. Estico demais e o ombro estala. A dor me lembra a figura de Atlas, carregando o mundo em suas costas. Seriam Atlas e Sísifo a mesma pessoa-persona? De repente só não vemos a montanha em um caso e no outro sim. Sabemos da montanha porque a história nos foi contada assim, muito antes de Maomé.
E esse é o meu ponto de partida para a newsletter de hoje, que se permite um ritmo mais alinhado com o fluxo da minha consciência porque é nela que nascem, moram e morrem a…
Prática, a perfeição e a insistência: nossos temas de hoje e sempre.
Volto ao tempo-espaço logo depois das 6h da manhã. Estico as fibras musculares enquanto organizo o lixo do quintal. Lembro - e talvez pense em voz alta - que sou do time que acredita nos métodos. Não porque se encerram em si mas, justamente, porque nos libertam das tarefas mais monótonas.
Varro da direita para esquerda (sempre prefira terminar na esquerda…) um quintal de 150m2 dividido em 15 quadrantes iguais e isso me permite seguir elaborando este texto enquanto cumpro a primeira hora de tarefas do dia.
Levo o lixo para a porta, lembrando que terças, quintas e sábados são a prova de que algum serviço público funciona: aquele que esconde as provas de nossa acumulação e destruição. "A Comlurb enquanto backup de nossa culpa capitalista”, daria um bom artigo.
Mas, definidos ou não, neutros ou opacos, os artigos me chamam e eu inicio o segundo método do dia. Percorro e-mails, ainda leio feeds, outro tanto de twitter e comentários da provável audiência em busca de uma conexão estimulante.
Resolvo sinalizar que não são a frieza dos big dados, a superficialidade de palavras da moda, algumas requentadas, e o insistente desenho de prováveis futuros irrealizáveis, que me movem todos os dias, sem descansar, desde 2003. Quando falei sobre o valor de clientes de marcas piratas, tremendo ao enviar o e-mail com a proposta de artigo para o meu primeiro editor, e ainda hoje, doutrinei minha energia criativa para…
Tentar entender os propósitos das narrativas do meu tempo.
Ocorre que pelas graças de uma boa genética, um comportamento próximo ao exemplar na alimentação e muita paciência, já vivi vários tempos. Lembro que tenho refinado esse propósito a cada ano ou dois mais ou menos, me adequando a essas novas formas de se contar histórias. Considero até um lazer interessante moldar as montanhas por sobre as quais carrego minhas enormes pedras.
(Você talvez não ouça mas, neste exato momento, lá vai uma escorregando novamente…)
E que isso só é possível entendendo que cada quadrante de cada quintal, cada e-mail de cada newsletter como essa, diluído em um tempo que não se calcula na frivolidade desta era de vídeos curtos, enfim, cada pequeno método regado com muita paciência, nos leva a nos aproximar da perfeição.
Resolvo refrasear. Leia “aproximar" imaginando aquela cena em que o fã consegue um meet-and-greet com sua estrela pop favorita em uma ComicCon lotada. Não querendo ser. Querendo ser contemporâneo de.
Hoje, neste meio de fevereiro de 2022, quero estar próximo e contemporâneo de um determinado fluxo no qual estou trabalhando e nos canais que dele nascem. Vou até ilustrar para facilitar para vocês:
É um print do Trello que utilizo para gerenciar minhas produções particulares este ano. Entenda que particular aqui é um termo bem amplo, que vai desde esta newsletter (o produto de conteúdo que mais estou curtindo fazer) até outros quatro que envolvem minha eterna luta para escalar minha produtora de conteúdo e o retorno de meu podcast acadêmico.
Em resumo: tudo aquilo que não me devolve um boleto pago. :)
Sísifo.
Calma que fica melhor. Cada produto de conteúdo desses me trouxe a necessidade de ir elaborando novos canais, de atualizar constantemente a minha forma de me relacionar com as histórias que quero contar e me manter em eterno modo beta. E, até mesmo, me achar no direito de passar para a minha provável audiência algumas missões para a semana.
Assim como os quadrantes de um quintal, hoje são quatro missões
Essas missões são um pedido de ajuda, acreditem. Preciso realmente que alguma coisa em meio a tanto esforço me surpreenda com alguma chance de sucesso. Financeiro, inclusive.
Mas, como sou, antes de tudo, um criador monástico e determinado (eu realmente varro o quintal quase todos os dias às 6h30 da manhã, não era metáfora), vou facilitar para vocês, resumindo as missões em ações bem assertivas.
Ajude-me a divulgar essa newsletter enviando o texto que você mais curtir para 10 amigos.
Entre para o nosso canal no Discord, que abri esta semana para acrescentar algo de vivo em nossa comunidade (me senti xófem!)
Avalie por favor esta proposta: contemconteudo.com/podcasts. Por avaliar eu quero dizer me dizer o que acha e, se assim considerar, enviar para decisores que possam gerar bons contratos
Comente neste texto o que gostaria de ler nas próximas edições.
E é isso. Quatro varridas.
Reviso. Agendo. Deito e me preparo para o próximo dia.
Ainda vou entrar no discord, mas você me fez pensar no quanto se produz quando há o tempo de esforço contínuo do corpo e não da mente, no varrer do quintal. Excelente.