Acordo depois de um dia difícil, porque tenho enfrentado meses complexos e dois anos inacreditavelmente enrolados. Mas, aos 48 anos me dou o direito de repetir mentalmente o que já sabia com 29: é a vida.
Mas fico por aqui na digressão pseudo-filosófica, porque hoje, tirarei uma folga momentânea em nosso posto de observação da tríplice fronteira entre tecnologia, comunicação e cultura, para me permitir ser curto e deliciosamente off-topic.
Lembro que tudo começou como em toda quarta-feira, a.k.a hoje, em um dia daqueles que teimam em nos tirar da cama bem cedo. Após encaminhar a ida de integrantes da família para seus afazeres dei uma olhada nas redes e me deparei com uma enquete, como quem não quer quase nada:
Sim, frequento o Linkedin às vezes. Shame on me.
Não contente em responder (o símbolo de “check” denuncia a minha participação), ainda fui comentar, sinalizando que não entendia (aliás, fingi não entender para poder me alinhar com o discurso do ambiente) essa predileção das pessoas por demonizar o conforto que se conquista.
Repare como a expressão “sair da sua zona de conforto” é o slogan perfeito para essa meritocracia às avessas que não permite que quem trabalhou, herdou, encontrou deu sorte sobre algo, conquistou, enfim, viva o seu momento em ritmo mais acalentado, olhando aquele por-do-sol, tirando a sua foto, como eu fiz no entardecer anterior aliás.
E é aqui que essa história banal de um começo de quarta-feira fica tão interessante. Porque a internet é viva, sabe? Ela é um tecido orgânico, um campo de experiências de engenharia social, uma placa de Petri na qual você sequer é a bactéria mais inteligente do rolê mas, apenas, faz número como todas as outras. Duvida?
Tá bem. Fair enough, como curtem os integrantes da corte de Sua Majestade. Comecemos por meu comentário:
Depois um papo cordial se seguiu. Oculto aqui a identidade por cuidado e respeito ao meu comentador. Até porque o que quero discutir aqui é um estado de coisas e não sua corajosa força de vontade:
Em resumo: Como nos lembra o autor coreano citado no comentário, o “sujeito do desempenho se entrega à liberdade coercitiva ou à livre coerção de maximizar o desempenho. O excesso de trabalho e desempenho agudiza-se numa autoexploração"
Foi isso que quis demonstrar e espaço e curto tempo não me permitiram, por isso até mesmo trouxe para cá. A mão invisível e auto-imposta que nos obriga a trabalhar no ultra-desempenho, moídos que somos faz com que alguns de nós SEQUER percebamos que trabalhamos sim para eliminar a Zona de Conforto porque ela não é útil para o correto andar da carruagem.
Felizmente, alguns de nós estão aqui para lembrar que a tão mal falada área em que você pode somente existir, respirar e deixar o vento bater no rosto é importante. E não tem nada a ver com sair de casa todos os dias - ou nela ficar, ou para a antiga voltar em caso de descompressão da cabine - para defender sua evolução e consolidar sua posteridade.
Tem a ver com poder decidir quando se está vivendo um ou outro momento. E inclusive fazer isso ao mesmo tempo.