Resolvo começar a edição desta semana, lembrando que dia desses sonhei com uma solução para uma entrega profissional. Digito as últimas palavras já imaginando a opinião dos mais afoitos que diriam algo próximo de “Nossa, você deve preservar suas horas de descanso”, o que me faz lembrar do excelente “O desejo dos outros – Uma etnografia dos sonhos yanomami” de Hanna Limulja que nos conta o quanto o sonho é A realidade para este povo originário brasileiro.
Segundo o que li nesse livro, entre sonecas em uma rede há mais ou menos ano e meio, é no sonhar que Pajés da tribo de fato vivenciam a realidade como mestres deste sonhar. Através dos sonhos, eles viajam e se abrem para a alteridade, explorando o desconhecido e o distante, e podem conhecer mundos onde nunca estiveram. Essa habilidade permite que os xamãs adquiram conhecimentos e estabeleçam conexões que beneficiam toda a comunidade.
Davi Kopenawa, xamã Yanomami, observa que os napë pë (os brancos) não sabem sonhar, pois seus sonhos são centrados apenas em si mesmos e em suas preocupações particulares. Em contraste, os Yanomami que sabem sonhar desbravam o mundo e aprendem com os outros, demonstrando uma abertura para a alteridade e uma disposição para aprender com diferentes seres e realidades.
É de uma perfeição tão sem tamanho que tento praticar, mal e mal, estas visitas à realidade verdadeira. E, vez por outras, me deparo com estas soluções.
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Resolvo explicar por que o fato me vem como tema. Tem a ver com as soluções criativas que tecemos para nossos desafios e que, vez por outras, merecem ser confontadas por outras realidades.
Estava eu montando uma abordagem estratégica para um novo cliente e defendi a potência dos FANDOMs enquanto geradores de narrativas transversais aos canais para marcas, projetos e empresas de forma geral.
Para ajudar, explico a teoria de forma bem rápida: um grupo dedicado de fãs é capaz de tecer narrativas meméticas que - ainda que se beneficiem - são menos dependentes das regras das plataformas de comunidades mais ou menos consolidadas. E por isso, mais fortes frente aos desmandos desta mesma plataforma.
Defendo essa tese porque tenho alguma reserva certa preguiça com o discurso “é preciso jogar o jogo das plataformas”. Eu acho que quanto maior uma marca, um projeto, uma ideia, quanto mais provada a potência de uma startup, MENOS ela deveria depender de um negócio que não é o seu. Ou seja, menos deveria depender do algoritmo, das timelines.
Enfim, sei que sou voto vencido. Ou como diria a Ademara neste vídeo sensacional da semana passada:
Né?
Mas parece que não estou sozinho, sensação que vivo tendo em 20 anos de conteúdo digital. Até chego antes, às vezes, mas sozinho raramente estou.
Isso se conecta com o tema de hoje porque também passou pelas minhas leituras uma do Alan Moore, criador de clássicos como Watchmen e V de Vingança, que vive de soltar opiniões ora polêmicas, ora polêmicas e valiosas.
O fato é que o bruxão tem se mostrado crítico (o que não é novidade) com a posição atual dos Fandoms como conceito em si. Em um tweet: ele acha que os Fandoms passaram por uma evolução tóxica, especialmente em casos onde o entusiasmo por personagens e histórias ultrapassa o campo da ficção e começa a influenciar o comportamento social e político de seus seguidores.
O que Moore defende é que o fandom nem sempre foi assim. Nos anos 60, ele nos lembra de uma época em que fãs se uniam em convenções modestas, focados em apoiar uma forma de arte marginalizada.
A paixão pela criação e inovação parecia ser o principal motor de um movimento que, hoje, para ele, se transformou em algo altamente comercializado e dominado por questões de status e posse.
Segundo ele, a transformação do fandom – que se intensificou com o crescimento dos super-heróis nas mídias de massa – acaba gerando sentimentos de possessividade e uma tendência à exclusão de vozes divergentes.
Quer um exemplo? Quem é mais irreal: Robert Downey Jr. ou Elon Musk?
A discussão sobre a toxicidade do fandom também passa pela forma como figuras públicas e fictícias se tornam quase indistinguíveis para alguns seguidores. Um exemplo recente é a ligação entre Robert Downey Jr., o Homem de Ferro da Marvel e Elon Musk.
O próprio Downey Jr., em entrevistas, já reconheceu que se inspirou em Musk para compor o papel de Tony Stark, reforçando o arquétipo do “gênio excêntrico” em uma narrativa que celebrava tanto a inteligência quanto a audácia.
No entanto, o ator demonstrou recentemente preocupações sobre o comportamento de Musk, questionando sua tendência de adotar um “cosplay” exagerado do personagem.
Em uma entrevista com a jornalista Kara Swisher, Downey Jr. comentou que gostaria que Musk mostrasse mais controle sobre suas atitudes, especialmente em relação ao impacto de suas declarações e decisões nas redes sociais.
Essa crítica ecoa a preocupação de Moore: quando a figura de um personagem ficcional começa a se confundir com a imagem de uma pessoa real, o fandom – seja de uma celebridade ou de um personagem – entra em um território onde as fronteiras entre ficção e realidade tornam-se perigosamente tênues.
Eu acho que é ainda mais desviante o raciocício: Musk não seria Justin Hammer?
Sou do time que acha que a comparação entre Elon Musk e Tony Stark talvez já não faça mais tanto sentido. Em vez de Stark, para mim Musk está mais próximo de Justin Hammer (Sam Rockwell) o vilão do segundo filme da franquia Homem de Ferro.
Hammer, retratado nos filmes como um empresário de carisma duvidoso e piadinhas idem, busca incessantemente superar Stark, movido por uma competitividade em essência tóxica e por uma arrogância que beira a imprudência.
Da mesma forma, Musk se tornou conhecido por suas declarações e ações polêmicas, tanto na esfera empresarial quanto política, o que gerou uma legião de admiradores e detratores. Para Moore, essa confusão entre heroísmo e anti-heroísmo pode ser prejudicial, pois promove uma noção deturpada do que significa ser um líder visionário.
Será que vou conseguir inserir um debate sobre I.A aqui? Você me subestima, provável audiência…
Pois é claro que vou. Além das discussões sobre fandom e comportamento público, Downey Jr. também se manifestou recentemente contra o uso de inteligência artificial para recriar sua imagem no cinema sem seu consentimento.
Como alguém que já teve sua imagem digitalmente manipulada para cenas de ação em Avengers (2012, dirigido por Joss Whedon) e para rejuvenescimento em Captain America: Civil War (2016, dirigido por Anthony e Joe Russo), Downey Jr. estabeleceu que não tolerará a criação de réplicas digitais sem seu aval, prometendo ações legais contra executivos que tentem usar essa tecnologia de maneira não autorizada.
Esse posicionamento ilustra uma defesa da autenticidade e da integridade artística, especialmente em uma época em que as figuras públicas são constantemente replicadas e manipuladas.
Para Moore, que compartilha de uma visão igualmente crítica, essa atitude reflete a necessidade de proteger a identidade artística em um mundo onde a cultura de fãs – e suas obsessões – ameaça obscurecer a linha entre o artista e o produto.
Quando a cultura contemporânea é a arena, quem tem capacidade de vencer o Fandom?
A crítica de Moore, Downey Jr. e outros atores e autores sobre a evolução do fandom nos mostra como a cultura de fãs pode ser tanto um local de apoio e criatividade quanto um campo onde disputas por “controle” se tornam perigosamente dominantes.
Enquanto fandoms saudáveis podem unir e enriquecer culturalmente, Moore acredita que os aspectos possessivos e agressivos que surgiram com o passar do tempo refletem algo mais profundo sobre a sociedade: uma dependência do “espetáculo” e da figura do “herói”, que pode ter implicações não apenas na arte, mas também na política e no comportamento social.
Para aqueles como Moore e Downey Jr., o desafio é claro: manter uma cultura de fãs que respeite a autenticidade, valorize o artista e compreenda os limites entre admiração e obsessão.
E para você? Tem liga esse assunto? Me conta aí!
Pílulas de curadoria, destiladas e condensadas para que a provável audiência não confunda fandom com bugalhos
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