Olho caixas e mais caixas ao meu redor, e me ponho a pensar em como aquela imagem de uma garrafa com uma mensagem de socorro é uma metáfora inútil. A gente leu sobre elas em diversos romances antigos, vimos este recurso migrar para cultura pop como a única saída possível em uma situação de risco extremo e partimos do princípio que funcionaria. Era isso ou morrer de fome ou insolação.
Me imagino como um pequeno rolo de papel dentro de uma garrafa dessas, navegando por praias do Caribe após ser jogado de uma ilha por um náufrago da vida. Uma vida abastecida por cocos, água de uma fonte encontrada milagrosamente no primeiro ato do filme e barrigas de peixe comidas ainda cruas, ainda sem noção de que, no futuro, pagaríamos e chamaríamos de sashimi.
Sou agora a mão de quem abriu o papel enrolado no qual se inscreve instruções para encontrar quem me arremessou. Sem GPS, sem mapa. Apenas instruções: “naufraguei por três anos em um local desconhecido e familiar, estranhei a água, o sol, as intempéries. Sobrevivi, preciso ser salvo”.
Descubro que sou eu mesmo a mão, o náufrago e o papel. Olho em volta, caixas e mais caixas. Repouso encontrado. Não estranho a água, não estranho o clima, abraço-me aos meus.
E começo a repensar em voltar a contar a minha história.