Começo a edição saudando a sorte que é, às vezes, falar de um tema só. Mas, antes de chegar lá, esbarro em ma lembrança: no início da blogosfera, sim, a gente se encontrava.
Eu pouco, pois desde sempre cultivei alguma tendência reservada, mas ainda assim, rolavam mesas no Amarelinho da Cinelândia ou cafés nos arredores, nos quais a gente trocava algumas ideias e planejava o futuro (hoje do pretérito) de nossa dominação mundial a partir de posts com resenhas de livros que ninguém havia lido e entrevistas entre nós mesmos. Nós, aqueles “que tinham blogs”.
Lembro disso, pois me deparei com esse tweet, entre um bloco e outro do Oscars 2023.
Li rápido, porque queria estar sintonizado sobre as chances do Brendam Fraser (que se confirmariam) e salvei para ler depois. Salvar para ler depois sempre foi para mim um salvo-conduto rumo a terra da responsabilidade pelo conteúdo consumido.
“Não pude ler agora, mas com certeza, vou ler depois. E vou resumir. E terei grandes insights sobre as narrativas do contemporâneo”. Pois é, ainda em planos de “dominação mundial a partir de posts com resenhas de livros que ninguém leu e entrevistas entre nós mesmos.”
Recordo deste movimento de horas atrás enquanto tomo banho para começar a semana pela segunda vez. Dois mil e vinte e três traz desafios em família que eu, singelamente, resumi neste vídeo curto.
Mas ainda assim, me vem essa ideia: salvei muitas coisas para ler depois. E nunca mais voltei. Mas hoje não, hoje eu volto. E listo para vocês tentando a partir da leitura da trama dos links, decifrar minha realidade, o meu estar no mundo.
Fui em busca de locais por onde salvo links e recortei o tempo: o que teria salvo em 2022? O que isso me conta sobre mim mesmo?
Peço sua ajuda. E começo.
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O que essa arqueologia de links nos conta?
Primeiro, que são poucos. Segundo - e isso serve de porquê - não são todos. Ocultei o que estava buscando no cenário político conturbado de 2022, que surpreendentemente era em menor número do que a maratona de Pânico e Delírio em Brasília poderia insinuar e bobeirinhas do gênero.
Não olhei para Instagram, que me surpreendeu por concentrar entre os posts salvos 90% de produtos que quero comprar um dia e o TikTok…no qual sabia que só encontraria aquilo para qual uso: me divertir basicamente.
Sobre capítulo diversão, cabe ressaltar que isso envolve vídeos de restauração de máquinas e relógios antigos e dezenas de realities musicais. De todos os países do mundo que tenham franquias dos que a gente conhece.
Mas ainda assim, não ter voltado para eles fez pouca diferença e isso nos fala muito sobre o imediatismo de nossas leituras nas redes, de como se tornou (ainda mais) efêmero nosso trabalho de produção de conteúdo e, sobretudo, que 2022 foi um ano muito, mas muito difícil em minha vida pessoal.
Muito longe de quando a gente, “aqueles que tínhamos blogs”, nos encontrávamos para planejar o futuro (hoje do pretérito) de nossa dominação mundial a partir de posts com resenhas de livros que ninguém havia lido e entrevistas entre nós mesmos.
Essa é a verdadeira história de hoje. E ela só vale se não for contada.
Até.