A estranha conexão entre introversão, floresta amazônica e robôs que simulam sociedades
Não tente entender agora. Leia e comente.
Antes de seguir no seu scroll semanal, aproveito para lembrar que estou rodando no mês de outubro uma pesquisa com a provável audiência. São apenas três minutos nos quais você vai responder sobre seu comportamento de leitura, do que gosta e do que sente falta aqui na newsletter.
O mito de uma rede de contatos construída somente por extrovertidos
A The Economist trouxe um compilado de dicas para pessoas ditas introvertidas conseguirem construir seus laços profissionais - o famoso network - apesar de sua fraca bateria social.
Sim, porque, não sei se você sabe, mas tem quem não seja dado a tantas interações. É aquela pessoa que está na fila de credenciamento de um evento e o que para alguns é uma excursão de escola com muita celebração, para ela é um campo minado social. No exato momento que após um pisão em falso ouviu um pino detonador. Ansiedade e dores de barriga? Sei como é: #tmj.
O texto até que começa bem ao criticar abordagens tradicionais, como a ideia de iniciar conversas em filas ou usar frases prontas, que muitas vezes são mais embaraçosas do que úteis. E se você como eu padece desta bateria social fraca sabe que a chance de trocar a ordem da frase pronta e criar algo vexatório é real, né?
Então, qual seria a solução?
Aqui acredito que qualquer guia que se organize ao redor do superficial destas conexões, falta com um ponto bem relevante: explicar a natureza do conceito de Capital Social. E, como ele se manifesta, ou encurta, aqui no Brasil.
Rapidamente: Capital Social refere-se aos recursos acessíveis através das relações sociais, que podem ser usados para alcançar objetivos pessoais ou coletivos. Em outras palavras, sua rede de contatos pode ser vista como um "banco" de recursos, informações e oportunidades que você pode acessar quando necessário. Quem se consolidou com o “criador” do conceito foi o sociólogo francês Pierre Bourdieu.
Bourdieu expandiu a ideia para incluir não apenas recursos econômicos, mas também sociais e culturais como formas de capital que podem ser usadas para adquirir poder ou status dentro de um determinado campo social.
Para Bourdieu, o capital social é acumulado através do investimento de tempo e esforço em relações sociais. Ele também enfatiza que o capital social é muitas vezes reproduzido dentro de grupos sociais específicos, o que pode levar à exclusão e à desigualdade.
Enfim: segundo o artigo, a chave pode estar nos "laços fracos", ou seja, aquelas conexões que não são muito próximas, mas que podem trazer informações novas e úteis para sua carreira. Um estudo citado pelo artigo sugere que esses laços fracos são mais benéficos para avanços profissionais do que conexões mais próximas.
Sobre laços fracos, o conceito digo, vale um livrinho pequenininho e cheio de informações interessantes chamado “Grouped” →
Mas é aquele negócio: o site gringo ignora (porque deveria mesmo, faz parte), a cultura local, pé no chão, moleque de várzea por aqui, onde extroversão e a sociabilidade parecem (ter que) vir junto com sua certidão de nascimento.
Nacionalidade: Brasileiro extrovertido.
E é aqui que o artigo começa a aterrisar na realidade nossa de cada dia. Ponto que eu gostaria de trazer aqui para a nossa edição.
Introvertidos que habitam um ambiente de privilégio tendem a acumular um Capital Social que não sabem e nem precisam usar; enquanto do outro lado da pirâmide, extrovertidos pela necessidade se esmeram em trabalhar um Capital Social que, por via de suas próprias circunstâncias, tende a não surtir tanto efeito assim.
Sim, estou propondo que o networking é mais uma performance do que uma ferramenta viável, em alguns casos. Comente a partir daí. ;)
Bora ver o que mais apareceu por aqui.
Para construir discussões e laços fortes, fica a sugestão…
Gosto de pensar na [Read][Rec][Play] como uma começadora de assuntos. Aquele mapa de situação que nos ajuda a seguir nos debates, sabe? Da mesma forma, lembro que a newsletter é um prolongamento do projeto mauroamaral.com que desde 2019 se propõe a defender plataformas proprietárias e contato direto como uma forma de respirar para além das timelines movidas por algoritmos. Por isso, temos canais de conexão direta. E por isso insisto neles:
No servidor do Discord, temos canais para os grandes territórios de nosso papo, além de espaço para inventarmos outros →
No Canal do Instagram, você acompanha os bastidores da minha produção enquanto criador de conteúdo com mais de vinte anos de estrada →
O mesmo se dá no Telegram onde, como diz do Bruno Natal do Resumido.cc, ninguém está, mas tem gente, viu? →
O mesmo se dá no recém-criado Canal do WhatsApp. Ouvi dizer que tem publisher escalando audiência por lá. Vem cá conhecer →
E, claro, se você chegou aqui a partir de indicação de amigos, fique à vontade para assinar a newsletter. Todas as quartas-feiras trago uma curadoria especial, temperada com análises inusitadas (a.k.a vozes da minha cabeça) sobre aquilo que me afeta direto da tríplice fronteira entre tecnologia, comunicação e cultura.
E o filme sobre a Amazônia com mais de 100 anos que foi encontrado?
E já que comecei falando de Network ficando inviável em função do recorte sociológico de nossa realidade, me lembrei de uma matéria que chamou atenção da galera conectada com história cinematográfica.
Vocês viram que encontraram um documentário de 1918 sobre a vida na Amazônia brasileira? O filme é tão raro que é considerado o "Santo Graal do cinema mudo brasileiro". "Amazonas, Maior Rio do Mundo", foi criado pelo diretor Silvino Santos e desapareceu pouco depois de sua produção. Foi recentemente encontrado em um arquivo tcheco e identificado por especialistas na Itália e no Brasil.
Silvino Santos, um cineasta português que passou grande parte de sua vida na Amazônia, é lembrado por seu documentário de 1922, "No Paiz das Amazonas", que é visto como uma tentativa de refazer sua produção perdida. O filme de 1918 é notável por sua duração, assunto e qualidade de composição. Ele apresenta algumas das primeiras imagens em movimento conhecidas do povo indígena Witoto e oferece uma visão detalhada da Amazônia, incluindo sua fauna, flora e indústrias extrativas.
O enredo “sobre o filme” é tão curioso quando ele próprio. Primeiro, os originais foram roubados por um associado de Santos, Propércio de Mello Saraiva, que estava negociando a venda internacional do documentário. Ele assinou fraudulentamente um contrato com a Gaumont para distribuir o filme na Inglaterra, onde foi renomeado como "Wonders of the Amazon".
Mais de 100 anos depois, o filme será exibido no festival de cinema mudo de Pordenone, na Itália, e há planos para outras exibições na República Tcheca e no Brasil. No entanto, o filme também levanta questões sobre a perspectiva colonialista de Santos, especialmente em relação à exploração econômica da floresta e à exotização dos povos indígenas.
Bom, mas aí, me parece que seguimos fazendo isso até hoje…
Tudo o que está em cima é igual ao que está embaixo
E como a palavra do conhecimento não encontra ouvidos abertos senão aqueles dispostos a ele, olha só que paralelo interessante. Sabiam que já tem uma galera utilizando agentes de I.A. para simular comportamentos humanos?
Li na VentureBeat em um artigo intitulado "Como os agentes de IA já estão simulando a civilização humana", que com os avanços na inteligência artificial escalando de forma muito mais acelerada do que sequer imaginaríamos, já tá rolando de permitir que os agentes de IA simulem e compreendam a complexidade da civilização humana. Ainda é escala de laboratório, em um game com 25 agentes turbinados com rotinas de aprendizagem.
Mas, tudo é exponencial nesse território. O que assusta.
O autor destaca que esses agentes de IA estão sendo usados em diversas áreas, como economia, política e sociologia, para modelar e prever comportamentos humanos.
Até que comecem a pensar sozinhos? Fica a questão.
Biscoitinhos para a provável audiência que é real, introvertida e extrovertida em igual medida
Menos é mais: na contramão do mercado imobiliário, a Tico SP está construindo prédios charmosos de apenas dois andares. Enquanto muitas empresas buscam construir arranha-céus e empreendimentos de grande escala, a Tico SP decidiu apostar em uma abordagem diferente, valorizando a simplicidade e a qualidade →
A VICE trouxe um artigo para discutir os problemas e preocupações associados ao uso de IA generativa. Para ilustrar, tem alguns incidentes em que a IA generativa foi usada para criar conteúdo falso, enganar pessoas e espalhar desinformação →
O Spotify está planejando
revolucionardominar o mundo dos audiolivros, oferecendo uma nova experiência para os usuários. No entanto, o sucesso dessa empreitada ainda é incerto. Leia mais sobre isso no artigo original →Momento History Channel emocionado: foi descoberta uma estrutura de madeira extraordinária com cerca de 476.000 anos, que não foi construída por Homo sapiens. A descoberta lança luz sobre as habilidades tecnológicas e sociais de espécies humanas ancestrais, que eram capazes de criar estruturas complexas muito antes do que se pensava anteriormente. E olha que eu li na SciTechDaily →
Para fechar, estou curtindo muito atualizar (expandir seria a melhor palavra) a lista de leituras sobre escrita ficcional, território onde pretendo morar depois de algumas missões capitalistas que ainda me esperam nos próximos anos. Neste quesito, chegou no final de semana este livrinho aqui:
Vou procurar esse Kundera. Gostei.