O desistir, o calendário e o vozerio
O que a cobertura da desistência de Joe Biden nos fala sobre a nossa relação com o tempo em que vivemos. E mais quatro histórias sobre tecnologia, comunicação e cultura.
Estava no meu último final de semana de férias, com agendas pessoais carregadas e confesso: quase passou batida a desistência de Joe Biden. A essa altura você já sabe, claro, mas, o presidente que prometeu "curar a alma da América", anunciou sua retirada da corrida presidencial.
O anúncio reverberou como um terremoto nas redações de algumas das mais prestigiadas publicações americanas, cada uma tecendo sua narrativa sobre a abrupta virada dos eventos.
E aqui, peço que você venha comigo para uma terra povoada por metáforas e imagine que, em meio aos comentários, existia um tom de fundo, como naqueles filmes que uma trombeta apocalíptica soa por todo o Globo, sabe?
Na abertura da edição de hoje da newsletter mauroamaral.com no Substack daremos juntos uma volta rápida por algumas primeiras páginas para aprofundar sobre o sentido, propósito e porquês deste tom de fundo.
(tá ouvindo também? é algo como um “uóoommmmmmm")
Em seu editorial, o The New York Times, o começa com uma nota de urgência. "O caminho mais claro para os democratas derrotarem um candidato definido por suas mentiras é lidar com a verdade com o público americano", clamava o texto. A redação não se esquivou ao mencionar a performance debilitada de Biden no último debate, sugerindo que a melhor estratégia para os democratas seria encontrar um novo líder que pudesse unificar o partido e garantir uma vitória em novembro.
Quando a gente dá uma olhada no The Atlantic, nos deparamos com uma perspectiva introspectiva, quase terapêutica, sobre a situação. Em um artigo assinado por Brian Klaas, a revista argumenta que as chamadas para a retirada de Biden são, na verdade, um sinal de um Partido Democrata saudável, capaz de se adaptar e evoluir. Klaas escreve com a precisão de um cirurgião político, dissecando a necessidade de mudança como um imperativo para a sobrevivência do partido.
"O partido que está se unindo em torno de um condenado, seja qual for sua conduta, é aquele que devemos nos preocupar," afirma Klaas, destacando a capacidade dos democratas de se reinventarem enquanto os republicanos permanecem presos em uma lealdade cega a Trump. A narrativa da Atlantic não é apenas sobre política; é uma história de resiliência, de um partido que se recusa a sucumbir às suas fraquezas e que vê na retirada de Biden uma oportunidade de renascimento.
Teve ainda o olhar econômico-analítico do Wall Street Journal, explorando a fragilidade dos mercados diante da incerteza política, destacando como a saída de Biden pode desestabilizar as previsões econômicas. Ou o ângulo mais global do Financial Times, versando sobre as alianças estratégicas que podem ser remodeladas, e do impacto nas políticas comerciais.
Enfim, poderia ficar aqui mais algumas linhas debatendo essa análise de discurso improvisada. Mas, o foco tende a ser outro: tem a ver com a nossa relação com a desistência. E de como nos rivalizamos entre nós mesmos
E onde mais fortemente nos deparamos com isso? Na reação dos Republicanos, claro. A turma de Trump agiu, em grande parte, a partir de críticas, muitas vezes carregadas de insinuações etaristas, destacando a idade avançada de Biden como um impedimento para sua capacidade de liderar. Figuras proeminentes dentro do partido não hesitaram em sublinhar a "fragilidade" de Biden, utilizando sua idade como arma política.
Alguns exemplos:
→ Donald Trump e seus aliados destacaram repetidamente a idade de Biden, usando termos como "senil" e "incapaz" para descrever o presidente. Trump, que não está muito distante de Biden em termos de idade, se posicionou como uma alternativa mais "vigorosa", apesar de estar apenas alguns anos mais jovem.
→ A mídia conservadora, como a Fox News, também se concentrou na narrativa de que Biden estava "além de suas capacidades", com programas e colunistas repetindo a mensagem de que ele deveria ter se aposentado há muito tempo.
→ Políticos republicanos usaram a retirada de Biden como um ponto de ataque, sugerindo que os democratas precisavam de uma liderança mais jovem e energizada, enquanto ignoravam questões semelhantes dentro de seu próprio partido.
A desistência de Joe Biden da corrida presidencial de 2024 em pressa de concluir esse primeiro bloco, me mostra o que parece ser uma dificuldade cada vez maior de considerarmos a desistência e a normalidade da vida como o padrão. Sinto que vivemos sob uma ilusão (uma prisão como as do
?) de excelência que não se alinha com a nossa fragilidade humana, nossa essência.Quando estas duas coisas se chocam (e estou pulando o detalhe do atentado ao Trump para simplificar, tá bem?), nos vemos em uma momento de dissonância cognitiva, não acreditando na finitude de uma jornada que se não foi brilhante, teve um quê de constante, outro de histórica e fundamental para várias legislações daquele país.
Não estamos preparados para duas coisas nesta vida: enfrentar o desconhecido e resignar-se com a nossa única certeza.
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[READ] → Repensando entradas financeiras, pelo menos nos EUA.
O fim da era de ouro do "overemployment": americanos dão passos para trás e se preparam para a vida com uma única renda
A pandemia acelerou aquilo que os blogs sobre empreendedorismo da primeira década já antecipavam: o trabalho remoto. Daí, nos últimos três anos, a galera conseguiu dobrar estas expectativas, misturando a realidade do “freela” com a do “super-empregado”. Li em um artigo recente na Business Insider que a galera lá nos EUA tá dando passos para trás e visualizando-se somente em um único posto de trabalho.
O texto cita casos como o de Charles, que ganhou entre $100.000 e $300.000 anualmente trabalhando secretamente em uma combinação de empregos remotos em tempo integral e contratos indepdentes. Esse rendimento extra permitiu-lhe fazer reformas em sua casa, comprar uma propriedade para aluguel, investir em um negócio próprio e adquirir um carro novo.
Contudo, o clima de “vamos todos voltar ao escritório" e a desaceleração na contratação reduziram as funções totalmente remotas em diversas áreas. Profissionais como Charles, já estariam pensando em outras formas de complementar a renda, como vender cursos online, criar uma loja de dropshipping, iniciar um canal de podcast e publicar livros na Amazon.
A era de ouro desse fenômeno pode estar terminando devido à diminuição das ofertas de trabalho remoto e à concorrência acirrada. Empresas dos setores de TI e tecnologia têm demitido funcionários e desacelerado contratações, dificultando a manutenção de múltiplos empregos. Além disso, a implementação de softwares de monitoramento tornou mais difícil para esses trabalhadores evitarem serem descobertos.
Aqui no Brasil a gente sempre se equilibrou aqui e ali com uns extras, principalmente a turma de economia criativa. Não sei nem se tivemos de fato uma era de super-empregados. E você, o que acha?
[READ] → Para pensar no pensamento…
Estudo sugere que percebemos o tempo através das atividades, não pelos minutos ou horas
Monitorando a atividade das ondas cerebrais de ratos enquanto repetiam comportamentos ao longo de uma hora, pesquisadores da Universidade de Nevada, Las Vegas, descobriram que parecemos perceber o tempo através do número de experiências que temos, e não pela passagem de minutos ou horas. Suas descobertas, publicadas este mês na revista Current Biology, sugerem que há alguma verdade no antigo provérbio: "o tempo voa quando estamos nos divertindo."
No entanto, pode-se trocar diversão por outra palavra — ocupação. "Percebemos o tempo através das coisas que fazemos e das coisas que acontecem conosco", disse o autor principal e professor de psicologia da UNLV, James Hyman, em um comunicado.
"Quando estamos parados e entediados, o tempo passa muito devagar porque não estamos fazendo nada ou nada está acontecendo. Pelo contrário, quando muitos eventos acontecem, cada uma dessas atividades avança nosso cérebro." Assim, o pesquisador concluiu, "quanto mais fazemos e mais coisas acontecem conosco, mais rápido o tempo passa."
O estudo acompanhou as mudanças nos padrões cerebrais no córtex cingulado anterior (ACC) dos roedores, uma parte do cérebro envolvida no rastreamento de experiências, enquanto realizavam uma tarefa. Os pesquisadores descobriram que os padrões neuronais dos ratos seguiam consistentemente o mesmo caminho, independentemente da velocidade.
Isso aponta para como as experiências, em vez de incrementos de tempo, trazem mudanças em nossos padrões neuronais. Há benefícios práticos imediatos em entender como nossos cérebros contam o tempo:
Se algo é desagradável, tente se expor rapidamente a outra coisa. Faça muitas coisas. Faça coisas novas. Quanto mais você puder experimentar, mais distante ficará a coisa desagradável.
Vale para a vida!
[READ] → Até o IA é do vale…
Hype de I.A. Generativa já estaria desacelerando….e o que isso quer dizer para você
A empresa de pesquisa e consultoria tecnológica Gartner, que se tornou conhecida pelo conceito do HypeCicle de novas tecnologias, afirma que a IA Generativa agora ultrapassou o "Pico das Expectativas Inflacionadas", uma fase onde “o excesso de entusiasmo e projeções irreais, uma série de atividades bem divulgadas por líderes tecnológicos resultam em alguns sucessos, mas mais falhas, à medida que a inovação é levada ao seu limite.”
A nova análise da Gartner se junta a um crescente coro de vozes entre instituições financeiras e firmas de pesquisa que acreditam que, enquanto a IA generativa veio para ficar e proporcionará valor para muitas empresas, as empresas de IA generativa prometeram excessivamente o que a tecnologia realmente pode oferecer, e muitos que investiram dinheiro nela nunca verão um retorno. O novo relatório da Gartner sinaliza um alerta importante para aquelas empresas que estão apostando tudo em IA generativa.
É essencial ajustar expectativas e adotar uma abordagem mais realista quanto ao potencial e às limitações dessa tecnologia. Embora a IA generativa possua inovações significativas, o mercado deve estar ciente de que a revolução prometida pode não ser tão imediata ou abrangente quanto o promovido inicialmente.
Nesse cenário, uma estratégia equilibrada que combina esperança com cautela pode ser a chave para o sucesso sustentado.
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Biscoitinhos para quem não desiste, mesmo se o prazo acabar…
🧑🎤 Engajando a Geração Z: atrair a atenção da Geração Z é uma grande treta. No entanto, um estudo recente do Pinterest sugere que existem estratégias eficazes para engajar esse público. A pesquisa revela insights sobre o comportamento da GenZ e oferece dicas práticas para as marcas se conectarem com essa geração. O Pinterest destaca a importância de autenticidade, interatividade e conteúdo visualmente atraente. As marcas que adotam essas estratégias podem aumentar significativamente o engajamento e a lealdade entre os jovens →
🛡️ Eles estão se alimentando de seus dados biométricos, como em Matrix: a coleta de dados biométricos por empresas é uma preocupação crescente, destacando a necessidade urgente de proteções adequadas. Este artigo explica como a falta de regulamentação pode levar a abusos e violações de privacidade. As empresas que coletam dados biométricos, como impressões digitais e reconhecimento facial, devem implementar medidas rigorosas para proteger essas informações sensíveis. A implementação dessas proteções é crucial para manter a confiança dos consumidores e evitar repercussões legais →
📱 Redes sociais, o novo cigarro: o cirurgião-geral dos EUA, Dr. Vivek H. Murthy, escreveu no The New York Times sobre os riscos das redes sociais para os jovens, pedindo ao Congresso que implemente avisos similares aos dos produtos de tabaco. Ele enfatiza que os danos não são falhas de força de vontade ou de educação dos pais, mas consequências de tecnologias poderosas sem medidas de segurança adequadas. Murthy sugere um rótulo de aviso nas plataformas de mídia social, similar aos avisos em produtos de tabaco, destacando os danos significativos à saúde mental dos adolescentes →
👗 Tecnologia na moda: A moda é um negócio dinâmico, com marcas lançando de duas a quatro coleções por ano e planejando com um ano de antecedência. Empresas de fast fashion introduzem novas linhas frequentemente, reduzindo o tempo para projetar, produzir e comercializar itens. A indústria da moda experimenta fronteiras tecnológicas, incluindo corte a laser, design auxiliado por computador e impressão 3D. Moda e tecnologia se cruzam em iniciativas como Gucci Garden no Roblox e a coleção Genesi da Dolce & Gabbana em NFTs. Empresas utilizam blockchains para autenticação e realidade aumentada para marketing. Em 2021, investimentos em tecnologia variavam de 1,6 a 1,8% das receitas, com expectativas de crescimento para 3 a 3,5% até 2030. IA generativa pode adicionar bilhões aos lucros operacionais, mas a moda deve gerenciar riscos relacionados a propriedade intelectual e reputação, entenda aqui →
🧑💻 Carreiras em IA: elas estão em alta, mas poucas escolas oferecem graduação específica na área. Allison Krinsky, formada em informática, trabalha como cientista de dados e afirma que muitas graduações são intercambiáveis para empregos em IA. Experiência prática é crucial para conseguir um emprego na área. Krinsky sugere que construir seu próprio projeto, como um sistema de recomendação de viagens ou um sistema de classificação de sentimento, pode aprimorar o currículo. Projetos devem ser experimentais e explicar claramente o que está acontecendo. Empresas estão se tornando mais exigentes, e adicionar um aspecto único ao seu trabalho pode ajudar a se destacar no mercado de IA. Quer entender se o seu LinkedIn fala essa língua? →