Para um ou para um milhão
E o que isso fala sobre uma internet que gostaria que existisse até hoje e é baseada em comunidades. Que aliás, são o futuro. Vem que eu explico.
Antes, vale lembrar que estou me dedicando a abastecer meu algoritmo rápido com pitadinhas de pensamentos aqui e ali. Se você chegou agora por aqui e não sabe do que estou falando, classifico as redes sociais pela velocidade de seus algoritmos. E sua generosidade na entrega. Por isso, o Threads é um dos mais rápidos. Segue lá!
A mensagem chegou num meio de semana qualquer, não me recordo o dia pois ando corrido. André Pannos (que conheci pelo Tiktok e acompanho desde então), do outro lado do WhatsApp, queria conversar sobre criadores de conteúdo para texto, uma espécie rara no ecossistema dominado por vídeos e stories.
Algumas edições da newsletter tinham chamado sua atenção, dessas que tentam costurar tecnologia, comunicação e cultura numa mesma linha de raciocínio.
O papo fluiu, como costuma acontecer quando duas mentes inquietas se encontram no território digital, e três dias depois estávamos gravando o primeiro episódio do "Estelares", sua nova série que promete trazer os gigantes da indústria para debater as fronteiras da Creator Economy.
(Mas que por alguma razão obscura, começou comigo, diminuto que só. De repente sou o maior anão de alguma Liliput conteudística, vai saber…)
O convite veio com aquele charme nostálgico da internet dos primórdios: "ficaria na área fechada da comunidade, mas no bom e velho clima de internet discada-moleque, vou deixar aberto". Impossível resistir.
Agendamos, reativei o Riverside.fm (que aliás etá cheio de novidades). Cliquei no REC. O resto, história.
Por falar em não resistir e histórias, se você veio na leva de divulgação deste espaço aqui pelos canais do André, considere assinar as edições semanais. Assunto não falta, embora tempo às vezes falte. Mas seguimos tentando. Escrevendo sobre bons motivos para um milhão de pessoas, ou para um milhão de motivos para uma pessoa só.
Da blogosfera aos algoritmos: uma jornada de duas décadas
Durante mais de uma hora, mergulhamos numa conversa que transitou desde os primeiros blogs de 2004 até as complexidades da inteligência artificial em 2025. Contei como comecei na "Gig Economy" quando ainda não existia esse termo, passando pelos podcasts pioneiros de 2008, até chegar ao momento atual como diretor de estratégia no Grupo Dreamers – o mesmo que produz o Rock in Rio.
André trouxe uma perspectiva afiada sobre a evolução da Creator Economy, dividindo-a em capítulos: o "manifesto da criação" (quando pessoas comuns cansaram da TV família brasileira dos anos 90), o "império do algoritmo" (quando o dinheiro chegou e os criadores se tornaram, ironicamente, escravos da relevância), até chegarmos ao momento atual, onde influenciadores viram empreendedores e marcas tentam se comportar como creators.
Falamos até de uma edição recente aqui da news
O ponto alto da conversa foi quando exploramos o conceito de "Vibe" – essa estética emergente onde você tem uma intenção, delega seu processo criativo à IA, e recebe tudo pronto do outro lado. Funciona para código (há startups de bilhões sendo construídas assim), para marketing, para quase tudo. O problema? Estamos criando um ciclo vicioso onde modelos de IA são treinados com dados sintéticos, empobrecendo progressivamente os resultados, como disse aqui.
Mostrei meu workflow de curadoria automatizada – como uso ferramentas como N8N, Notion e inteligência artificial para acelerar processos que já existiam, não para substituí-los. A diferença é sutil mas crucial: a IA como acelerador de potenciais criativos, não como substituto da criatividade humana.
Eu abordo essa filosofia aqui nesta página do meu site pessoal. Vale a leitura se você se interessa por analisar estes movimentos todos por ótimas mais aprofundadas.
Falamos também de marcas, memes e a busca pela autenticidade (perdida?)
André fez uma provocação certeira sobre as marcas que chegam atrasadas nas trends, comentando posts virais como "pais chegando na festa dos adolescentes". Debatemos como todas querem ser a Netflix das redes sociais, seguindo a mesma receita de sarcasmo e irreverência, perdendo suas personalidades únicas no processo.
A conversa também revelou um insight valioso: o verdadeiro profissionalismo não é apenas entregar o que está no briefing, mas entender que, no final do dia, você está lidando com pessoas. Ajudar o executivo do cliente a crescer na carreira dele é muito mais estratégico que simplesmente cumprir tarefas.
O futuro é comunidade: até o Orkut está voltando…
Terminamos concordando que o futuro está em contato direto e comunidade real – não aquelas que as marcas criam como canais de venda disfarçados. É sobre construir propósito, independente de ter um leitor ou cinquenta mil. Como defendo há anos: sou uma espécie de radar que quer ser alto-falante, captando sinais do zeitgeist para amplificar discussões relevantes.
Foi dessas conversas que confirmam por que vale a pena estar na internet há duas décadas: para encontrar pessoas pensando nas mesmas questões e construir essas pontes entre ideias, tecnologia e humanidade.
E, então, o Orkut disse que o Orkut ia voltar.
Mas isso, é outra história.
Biscoitinhos liberados, clique dois, leve três, o patrão está louco…
🎧 Já que falei do universo dos podcasts, do qual sinto falta de produzir para… | Vale citar o episódio 142 da Rádio Escafandro (Heil Trump), com análise precisa sobre a ascenção (da loucura) de Trump. E nem estou falando do tarifaço, tá? Tomás Chiaverni trouxe a historiadora Tatiana Poggi que analisou as semelhanças do atual presidente dos EUA e um infame ditador alemão (austríaco na verdade…). Dá o play lá também →
🎨 Como a arte de Pedro Vinicio transforma a pressão social em humor e reflexão | Ele é um jovem ilustrador de Garanhuns que se destacou no cenário das redes sociais, especialmente no Instagram, ao transformar situações cotidianas em ilustrações envolventes e reflexivas.
Nascido em uma cidade do agreste pernambucano, Pedro (@pedrovinicio80) começou a dar vida à sua criatividade desde cedo, mergulhando em livros e explorando a arte sob uma perspectiva crítica.
Com apenas 19 anos, ele já conquistou a atenção de personalidades como Marisa Monte e Ivete Sangalo, tornando-se uma figura influente no mundo da arte digital. Você conhecia, só não sabia esses detalhes que pesquisei aqui na news da Camila Yahn →
🪓 Li sobre a técnica de 'Mickey Mousing' em 'The Shining', que transforma o terror psicológico em uma arte musical. | O clássico de Stanley Kubrick baseado no romance homônimo de Stephen King, é amplamente reconhecido como uma obra-prima do horror psicológico. Um aspecto frequentemente subestimado que contribui para sua eficácia e atmosfera aterrorizante é a trilha sonora (de Wendy Carlos, aliás), que não apenas complementa as imagens, mas também intensifica a experiência emocional do espectador. Dá uma lida nesta análise que se concentra na técnica utilizada por Kubrick, que liga a música aos movimentos dos personagens, elevando a tensão e o impacto emocional de cenas-chave →
😫 Você sabia que 50% dos criadores de conteúdo enfrentam burnout? | Vi isso em um artigo recente no The Guardian, intitulado “Você não pode pausar a internet: criadores de mídias sociais enfrentam burnout”. Ele revela a luta silenciosa por trás do glamour das redes sociais, onde a pressão constante para produzir conteúdo leva a sérios problemas de saúde mental. É raro mas acontece sempre, confira aqui →
👶🏻 🤖 Dos mesmos criadores de “Terapia por IA”, vem aí… parentalidade mediada | Li em um artigo da Fast Company Brasil que aproximadamente 52,7% dos pais já utilizam algum tipo de ferramenta de inteligência artificial para consultas diárias sobre parentalidade. Entre os guerreirinhos da boa criação, destacam-se o CEO da OpenAI, Sam Altman, que utiliza o ChatGPT para entender melhor as fases de desenvolvimento de seus filhos, e a psicóloga infantil Robyn Koslowitz, que observa que muitos de seus pacientes agora confiam em chatbots para diagnósticos e conselhos. E você aí reclamando que seu pequeno passa muito tempo no smartphone, né? →
🎸 🛠️ Cria essas crianças com Rock'n'Roll, pô | Se bem que vi no Open Culture que nos anos 80, rolou chumbo trocado no assunto playlists preferidas (ou não) entre regimes autoritários e democracias igualmente. Tanto nos EUA quanto na União Soviética, criaram campanhas de censura para controlar narrativas ideológicas. Bandas foram rotuladas como ameaçadoras, com algumas acusadas de promover "neofascismo" ou "violência".
Lá pelas bandas do Kremling, sob a liderança da organização Komsomol, rolou uma lista infame de trinta e oito bandas de rock consideradas "perigosas". Entre elas estavam nomes icônicos como Kiss, Pink Floyd, Black Sabbath e Iron Maiden, rotulados como ameaças à ideologia soviética e à moral pública. Vale ler com calma, com sua playlist preferida, aqui →
Tá, vou fechar com essa loucurinha aqui que adoro usar para escrever:
E você, comenta aí com a playlist que mandaria para seu amigo do outro lado da cortina de ferro?