Que você fique em segurança, porque são tempos difíceis, Gavin.
Abro o e-mail às 13h de ontem: nós aumentamos sua cota para 1000 assinantes me conta Gavin que provavelmente deve ser um codinome que alguém em um porão escolheu para atender ao meu chamado de dois dias atrás.
Decido agradecer e ao mesmo tempo desejar que tudo esteja bem e que você, Gavin, fique em segurança porque são tempos difíceis. Vivemos uma época em que tudo o que você precisa falar, demanda ser dito o mais rápido possível, como em um telegrama para possíveis eternidades. A eternidade do outro é um e-mail lido às pressas.
Finalizo o upload da minha base de leitores que me acompanha desde 2003 e os 1000 de vocês agora, tem nova casa. O potencial é interessante e desafiador: falar de forma conectada e direta para um grupo de pessoas relativamente grande - lembro do que falei sobre as 250 conexões possíveis.
Decido relevar em mais detalhes como vou pautar meus textos diários por aqui. Inicialmente não seriam, preferindo os semanais, um compilado do que eu leria em outras tantas newsletter que realmente leio: NiemanLab, Vulture, Intelligencer, One Great Story (da NewYorker Magazine), The Cut, CityLab (da Bloomberg), Atlas Obscura e muitos, muitos outras. Mas todos fazem isso.
Me recordo que a conexão direta entre o fluxo de minha consciência e os ouvidos da audiência, fazendo isso a partir de um texto mais ou menos composto em fluxo de consciência me faz feliz e traz conforto. E como vivemos tempos difíceis em que todas as palavras podem ser as últimas, opto pela zona de conforto, da qual sair acredito ser a maior idiotice de todos os tempos. Anoto em um canto de página que esse é um bom tema para outro dia.
Lembro que vou abordar por aqui nessa comunicação diária aspectos em que a TECNOLOGIA e o estado atual desse neo-liberalismo plataformizado nos está transformando a todos em unidades computacionais de grandes plataformas de informação. Sendo informação o aspecto mais aparente do capital atual, este que migrou de crédito imobiliário podre em 2008 e virou o banco digital que é tão cool, mas tão cool que faz você tomar no.1
Recorto a primeira decisão mais uma vez (tenho feito isso como em um despertar eterno, daqueles que Sandman oferece como pagamento a feitos não tão bons em vilões de seus quadrinhos, obrigado Neil Gaiman2) e aproveito para lembrar que a tecnologia em minha pesquisa sofre um primeiro recorte daquela aplicada em técnicas de COMUNICAÇÃO. Mais precisamente, a comunicação baseada em narrativas em áudio. Sim, aquilo que convencionamos chamar de podcast. Que começou como uma rápida adaptação de um protocolo de troca de arquivos e hoje é uma indústria que movimenta milhões de dólares e ouvintes.3 Que têm ouvido mais rápido os seus programas preferidos para assim, gerar mais dados para anunciantes das plataformas que oferecem gratuitamente seu entretenimento sônico diário. Longa história.
Por fim, sinalizo para mim e para a provável audiência que TECNOLOGIA e COMUNICAÇÃO geram determinada CULTURA, sendo esta a dos produtores independentes dessas histórias em áudio. Para sobreviverem, engendram modelos de negócio como aqueles que pretendo aqui, trocando reflexões diárias por assinantes atentos e interessados e alguma consultoria dedicada. Lembro que o pulo do gato é perceber o quão isso nasce de uma filosofia para além do que nos conta o LinkedIn.4
Penso que ao unir os três pontos e deixá-los serem perpassados por aquilo que Li, Gravei e Falei por aqui e em outras paragens, teremos oportunidade de trilhar um caminho diferente do usual. Não tão ágil e por isso menos suscetível às marés de palavras fáceis. Não tão raso e assim, perfeito para melhores discussões.
Sinto que será uma jornada como aquela que no início parece só de ida e, com o sambará cheio depois de madrugada no mar, você descobre que voltará provendo alimento para a família que escolheu chamar de sua. Nem por iso menos difícil como tudo que enfrentei desde 1992, quando percorria a cidade por 3 horas para ter 1 hora de aula, 70 km depois, para trabalhar cercado de quem não me fazia brilhar os olhos, anos 90. Sobre esse mundo pendular, prometo voltar em breve. Com notícias que espero boas.
Finalizo pedindo comentários. Clico em publicar.
Sobre essa situação da crise dos derivativos que faliu muita gente em 2008 nos EUA, vale o filme The Big Sort.
No primeiro arco, após ser preso por quase um século em um porão de um mago inglês famoso, o Lorde Morpheus condena o herdeiro de seu captor ao eterno despertar. Assim, ele vai tendo os piores pesadelos, acordando para descobrir que estava em outro sonho e acordando para descobrir outro pesadelo e assim sucessivamente.
Essa história é muito bem contada em livros nascidos da própria comunidade aqui no Brasil, como o Reflexões Sobre o Podcast. Aqui vale lembrar que é uma obra anterior a chegada do Spotify, o que muda bastante coisa.
Para entender um pouco mais sobre a Ideologia Californiana, vai aqui neste link o texto seminal sobre o tema.