Será mesmo que o que nos espera é uma sopa azeda de conteúdo intragável?
Tenho lido muito sobre Slop Web aqui e ali. Mas sempre acho que é sobre querer não fazer parte. Não é inevitável, sabe?
Vivemos em um tempo… não, não. Não vamos começar assim porque aqui não tem um agente de LLM tentando simular de forma estocástica argumentos e escrita criativa. Não, caro padrão estatístico, não vivemos em um tempo, nós estamos presos a ele.
Estamos acorrentados a nossa limitação espaço-tempo que nos obriga a nos entender lineares, quando somos múltiplos. A nos submetermos a passos de manada quando somos únicos. A aceitarmos overlords comandando a nossa comunicação quando somos livres.
E mesmo que você não tenha percebido, somos múltiplos, únicos e livres.
Dito isso, aí vai: não acredito que a web morra com essa avalanche de slop content que tem nos invadido. Acredito que ela se fortaleça. Mas, que morra antes disso.
Somos múltiplos, únicos, livres… e às vezes contraditórios.
Eu me explico. Mas vou fazer isso levando você para uma cena pitoresca. Imagine que estamos juntos, eu, você e mais um passageiro em um elevador interestelar. Nossa companhia é uma entidade de outro planeta. Eu estaria falando mais ou menos assim:
1. Por volta de mil novecentos e noveta ciclos solares depois da passagem de um dos seus por nosso planeta, seres humanos começaram a interligar em larga escala redes telemáticas para troca de informações. Nos primeiros 15 anos, tudo funcionou relativamente bem: o conhecimento circulou, amizades e casamentos foram celebrados, a gente comprava livros e escrevia crônicas… e muita coisa boa surgiu.
2. Ocorre que o modelo precisava se sustentar de alguma forma. (Provavelmente a entidade interplanetária levantaria uma sobrancelha inexistente como quem insinua: “Sério, vocês ainda estão nessa do escambo?") Por isso, enfrentou depois desse período inicial uma bifurcação: ou ele ia para um modelo de assinatura ou para o modelo de publicidade paga. Optou pelo segundo.
3. (Começaria o ponto 3, eles curtem organização, com nosso amigo balançando negativamente sua cabeçorra de Alien)… pois é, eu sei. Um erro. Mais e mais pessoas foram chegando, mais anúncios sendo vendidos e para que fosse viável fazer sentido muita gente consumindo muito conteúdo (e anúncios!) em um único lugar, esta imensa quantidade de conteúdo humano começou a ser filtrada. Por interesse, por gênero (nem tente entender, eu sei, eu sei, vocês já superaram), por clusters ideológicos… e aí começou: a realidade, essa deliciosa abstração possível apenas em manifestações tridimensionais como a nossa, mostrou-se fragmentada com cada um bebendo da sua e comprando mais coisas dentro desta sua versão. Nós adoramos comprar coisas.
4. Isso seguiu gerando problemas por mais alguns anos até que, com a evolução de alguns modelos estatísticos e matemáticos, começou a ser possível simular a produção de informações humanas por versões automatizadas. Aqui nós chamamos de I.A. No início, o homem criou a I.A. e viu que era bom, sabe?
5. Mais rápidos, mais baratos, incansáveis e quase conscientes, estes modelos começaram a assumir mais e mais protagonismo nos ambientes que, ainda filtrados por toda sorte de algoritmos, agora também inspiravam certo estranhamento aos olhares mais atentos na qualidade de mãos sem forma, tons de voz quase-maníacos, movimentações robóticas. Mais e mais conteúdo foi produzido assim, tomando o que já era uma câmera de eco com outro fenômeno, o conteúdo slop. Ou se preferir, Jesus feito de camarão.
(Neste momento, nosso andar estaria chegando eu me despediria com a opinião final)
6. Mas é aquilo, várias indústrias criativas passaram por movimentos semelhantes, nos quais a banalização ou a sua capacidade de serialização atingiu níveis tão extremos que ela se comoditizou. Até que, alguns anos depois de virar comódite, foi reprocessada como objeto de culto, repensada enquanto ativo cultural e ressignificada em seu uso. (eu puxaria um caderno do bolso e desenharia rapidamente o exemplo da indústria musical e seus suportes tecnológicos):
Mas aí estaríamos chegando eu meu andar: terceiro após a estrela amarela de quinta grandeza. Me despediria educadamente - nunca se sabe se são venenosos - e deixaria no ar essa esperança:
No final da história, me parece que a melhor coisa para a web DE HOJE é ser entupida de tal volume em conteúdo slop que só restaria aos interessados refundar, ressignificar, reprocessar, antropofagizar um novo espaço, sob novas regras, ainda que sob a esfera de um culto baseado em suas primeiras promessas.
Ele me olharia com a porta fechando rumo a seu buraco de minhoca e eu ainda ouviria:
Mas vocês nunca tentaram newsletters?
Biscoitinhos para quem quer entrar nesse elevador comigo
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