Tenho andado distraído, impaciente e indeciso. E os motivadores dessa confusão de sentimentos, que não à toa é letra de música, são os dois estados de existência que abrem o título desta edição com cara de crônica e ensaio digitada em tempo real nesta quarta-feira de impulso criativo. E não, só que agora não é diferente.
Fui útil inúmeras vezes em minha existência, ao ponto de considerar a expressão dessa utilidade uma das únicas formas de estar no mundo. No início, me parecia interessante: me levava a atingir realizações, superar expectativas, crescer aqui e ali.
Pensando assim, me reinventei pessoalmente de músico para publicitário, de publicitário para estrategista de conteúdo, desta função para dono de empresa e - mais uma vez - acumulando a esse que seria meu platô profissional outras iniciativas - me reinventei enquanto gestor de equipes de profissionais de estratégia. E fui útil para cada um desses ecossistemas.
Pensando assim, fui também o colega da rua que sabia programar, o garoto que morava longe na faculdade, mas sempre sabia o que estava acontecendo nas matérias teóricas, o “vamos com a gente que como você não bebe pode trazer o carro de volta” nas baladas, o “vai para mim ao Banco porque me esqueci?”, o “é verdade que você sabe montar móveis só olhando o manual e com uma faca de cozinha?”. E fui, mais uma vez, a expressão mais dedicada e acolhedora do que um ser humano útil pode ser.
E o tempo, como a mais crônica das dores, passou. E se tem uma coisa que essa passagem nos propicia é garantir aos mais atentos um assento preferencial na plateia de sua própria vida. Você senta, pega sua pipoca ou amendoim e revê alguma cenas. E foi aí que me quedei a refletir.
Essa utilidade toda que como disse considerava a única forma de manifestar a sua existência, tem uma única direção, o benefício do outro. E uma consequência: o seu esquecimento. É como ser o melhor produto que você tem na prateleira. Ele fica em exposição, guardado, bem mantido e em funcionamento. De tempos em tempos, no ritmo de sua utilidade, você vai lá, pega na prateleira, usa. Olha para a ferramenta e pensa “nossa, não teria conseguido sem esse equipamento, como ele é útil. Que legal”. E volta com ele para a prateleira. O que é uma relação justa.
Só que a utilidade como máxima expressão de existência faz você voltar para a prateleira do outro. E, o outro, vier a sua vida. Chamar as pessoas para curtir as novidades do mundo, sejam elas ao ar livre ou em recintos fechados e pouco iluminados. Seja escrevendo sonhos e vivendo todos eles, celebrando, comemorando. Egóicamente realizando.
Utilidade não é protagonismo. E o protagonismo, esse sim, é o sentido máximo da existência.
Sentir-se protagonista (de sua carreira, de sua vida emocional e familiar, financeira…) tem andado cada vez mais difícil. E eu, cada vez mais útil.
Não sei como e se isso se resolve no horizonte de eventos dessa jornada presente. Que, aliás, chega em sua metade. Tem dias que acho que sim, tem outros que me dou por (con)vencido e, paradoxalmente, sigo tentando.
A vida é o que a gente faz enquanto faz planos, como dizem por aí.
Curioso, né?