O dia em que descobri que a 23AndMe deixou que roubassem o DNA dos seus clientes...
Um futuro tipo GATTACA vem aí, pelo menos para quem tem capital para isso? E mais: o que vem depois para a diretora de "Barbie", um microfone para se falar mais baixo, e o futuro das criptos.
Olá, provável audiência, vocês estão bem? Eu sigo daqui, direto da tríplice fronteira entre tecnologia, comunicação e cultura pinçando aquilo que acontece e tem potencial de mexer com as nossas estruturas do pensar.
Acho que já comentei, mas é sobre bom reforçar: a ideia é pular a cerca dos “comos” (essa submissão tático-prática da vida moderna) e correr em direção a uma tentativa para se entender os porquês.
Spoiler: paira a suspeita que seguimos a passos firmes rumo a Distopias sequer imaginadas.
Vejam só essa pequena pérola, pescada no Ars Technica: a empresa 23andMe anunciou que dados privados de usuários estão sendo vendidos depois de terem sido coletados sem permissão. Esses dados incluem informações pessoais e genéticas dos usuários. A empresa afirmou que está tomando medidas para resolver a situação e proteger a privacidade de quem confiou nos seus serviços, porém tarde demais, vamos combinar.
Sempre que esbarro no tema, qual seja, da evolução dos tratamentos genéticos e edição de DNA (o tal do método CRIPR-Cas9) não tem como não fugir da referência do GATTACA (1997, Andrew Nicoll).
Não pela técnica. Mas pela Serumanice da história toda.
Só para você lembrar: em GATTACA, somos convidados a conhecer um futuro distópico onde a sociedade valoriza a genética acima de tudo. Vincent Freeman (interpretado por Ethan Hawke), um homem nascido naturalmente, luta contra as probabilidades genéticas. Ele sonha em trabalhar na Gattaca Aerospace Corporation, mas seu status genético desfavorecido o impede. Para alcançar seu sonho, Vincent assume a identidade de Jerome Morrow (interpretado por Jude Law), um atleta geneticamente superior que ficou paraplégico em um acidente. Vincent enfrenta desafios para enganar um sistema de identificação genética rigoroso enquanto persegue seu sonho de viajar para o espaço.
Ou seja: nunca é sobre avanço científico. Nossos dramas - ficcionais ou reais - nascem de nossa inércia moral, que sempre tende para a inação, pois nosso cérebro primata detesta mudanças e adora padrões. Ou seja: preferimos nos priorizar, passamos por cima dos outros, não somos tão bons assim. Se voamos pelo espaço ou escolhemos a cor dos olhos de nossos filhos, é puro vapor.
Para além da questão moral, vem (ou nasce dela) a econômica. Vamos lembrar que nesse mundo financeirizado ao extremo (sobre isso o papo seria longuíssimo), o avanço de tais técnicas convive ainda com sua tendência à centralização.
Resumindo em outra metáfora cinematográfica: o primeiro homem bicentenário será um bilionário.
Mas, calma. Tem mais assunto para debatermos na edição de hoje. Vem comigo!
Mas antes…
…você já participou da pesquisinha rápida?
O mês de outubro marca o início da arrancada final do ano, aquele trimestre em que você ou acertou ou segue tentando. Tudo bem, é por aí mesmo. Mas, em meio aos seus planejamentos eu tive a cara de pau de pensar em uma pesquisa para entender como o conteúdo que produzo todas as semanas por aqui tem chegado até você, minha provável audiência.
É muito rápido: quando testei, não deu nem três minutos. São apenas algumas perguntinhas e campos livres para sua opinião sincera e cuidadosa.
Ainda tem lenha para queimar no mundo crypto?
Após o colapso das criptomoedas no ano passado (a.k.a FTX e seu tresloucado criador Sam Bankman-Fried que, aliás, está sendo julgado essed mês nos E.U.A por fraude de USD 9BI), será que tem gente ainda tentando empreender no campo?
Em uma edição especial do boletim The Scoop, Frank Chaparro, reflete sobre as mudanças significativas que ocorreram em sua área de cobertura, a estrutura de mercado de criptomoedas, ao longo do último ano. E tende a responder que sim.
Enquanto outrora grandes nomes como FTX, Genesis, Voyager e Three Arrows deixaram o cenário, dão lugar a uma nova geração de empresas no setor. Chaparro destaca algumas dessas empresas emergentes:
Ostium Labs: Esta startup levantou $3,5 milhões em financiamento de investidores como General Catalyst, LocalGlobe, SIG e Balaji Srinivasan. Seu time está desenvolvendo um protocolo para swaps perpétuos de commodities digitalizadas, visando atrair tanto traders de commodities tradicionais quanto traders nativos de criptomoedas que buscam uma alternativa mais transparente e flexível às plataformas de derivativos convencionais.
JKLabs: Esta startup visa resolver questões de governança no ecossistema de finanças descentralizadas (DeFi) e web3, oferecendo uma plataforma que facilita a tomada de decisões on-chain e o envolvimento da comunidade. Diferente das plataformas de governança tradicionais, JKLabs utiliza reputações on-chain para determinar a influência dos participantes no processo de governança, permitindo uma participação mais significativa e justa.
Fractal: Co-fundada por Aya Kantorovich e Alex Elkrief, a Fractal levantou $6 milhões para desenvolver uma plataforma que melhora a transparência na compensação e liquidação de ativos digitais. A empresa visa evitar negociações alavancadas que levaram à falência de empresas como Three Arrows Capital e FTX, permitindo aos clientes monitorar suas posições em tempo real e limitar a garantia para empréstimos apenas a criptomoedas de alto valor.
Turnkey: Esta startup liderada por ex-executivos da Coinbase Custody obteve $7,5 milhões em financiamento inicial para oferecer uma plataforma orientada para desenvolvedores para segurança e gestão de ativos digitais no setor de criptomoedas. Eles buscam fornecer soluções flexíveis e programáveis para geração de carteiras e assinatura de transações em diferentes redes blockchain, em resposta às crescentes preocupações sobre a segurança de ativos digitais.
Architect: Fundada por Brett Harrison, ex-presidente da FTX.US (alerta vermlhíssimo aqui), a Architect recebeu $5 milhões de investidores, incluindo Coinbase Ventures e Circle Ventures. A empresa focará em fornecer ferramentas de negociação de software para finanças descentralizadas, visando investidores e instituições grandes. O objetivo é criar tecnologia de negociação de qualidade institucional que simplifique o acesso a protocolos descentralizados e exchanges centralizadas para grandes empresas, traders e usuários individuais de alto volume.
E aí, se anima?
(Eu não)
Parando por aqui e mergulhando no lado [PLAY] do nosso papo semanal:
O que vem depois de Barbie na vida de Greta Gerwig?
Greta Gerwig, diretora e roteirista, recentemente participou de uma sessão de perguntas e respostas no Festival de Cinema de Londres de 2023, onde revelou detalhes sobre seu próximo projeto que a tem atormentado em pesadelos recorrentes.
Embora ela tenha ganhado destaque por seu trabalho no filme "Barbie", Gerwig está atualmente escrevendo algo que a tem tirado o seu sono, nas palavras dela. Além disso, ela compartilhou a luta que enfrentou para manter a cena musical "I'm Just Ken" em seu filme "Barbie". Inspirada por clássicos como "Cantando na Chuva" e "O Mágico de Oz", ela trouxe elementos do glamour dos musicais dos anos 30, 40 e 50 para sua própria obra, criando uma experiência visual única.
Para entender um pouco mais da jornada de Greta, se liga em alguns de seus trabalhos anteriores:
"Frances Ha" (2012): Este filme dirigido por Noah Baumbach e co-escrito por Greta Gerwig apresenta uma personagem principal carismática e complexa interpretada por Gerwig. A história segue Frances, uma dançarina moderna, em suas travessuras pela cidade de Nova York. A narrativa encantadora e a exploração da amizade são marcas registradas de Gerwig, tornando este filme uma escolha relevante.
"Lady Bird" (2017): Este é o primeiro filme solo dirigido por Greta Gerwig e recebeu aclamação da crítica. "Lady Bird" é uma jornada comovente de uma adolescente que sonha em escapar de sua cidade natal e ir para a faculdade. A conexão emocional com os personagens e a habilidade de Gerwig em criar narrativas autênticas são evidentes neste filme, tornando-o uma escolha fundamental.
"Adoráveis Mulheres" (2019): Nesta adaptação do clássico romance de Louisa May Alcott, Gerwig demonstra sua habilidade em contar histórias interconectadas de mulheres fortes e independentes. O filme oferece uma visão moderna e empoderada das irmãs March, explorando temas de amor, ambição e identidade. A habilidade de Gerwig em criar personagens tridimensionais e contar histórias femininas envolventes é um aspecto crucial de sua carreira, refletido nesta obra.
Vocês eu não sei, mas parei de prestar atenção em mim mesmo escrevendo quando lembrei da Margot Robbie, que me tira do sério.
Momento para admirar o trabalho de Jane Housham
Nessa de me consolidar como newsletteiro e acelerar meu processo de curadoria1, esbarrei neste post no site It's Nice That, que destaca um dos projetos artísticos da escritora e artista visual Jane Housham.
Em "Fragments," Housham explora a relação entre objetos, memórias e identidade. Ela cria colagens usando objetos, memorabilia e fotografias antigas, encontradas em feiras e lojas de caridade.
Housham utiliza essa abordagem para investigar como as memórias são preservadas e como os objetos e imagens do passado podem evocar sentimentos e pensamentos complexos.
Nota pessoal: Isso me conectou, vejam só vocês, com meu primeiro trabalho premiado, ainda na categoria de candidato a estagiário. O ano era 1995 e o Clube de Criação do Rio de Janeiro lançou um edital para se criar um anúncio de revista sobre o Futebol Carioca, então (ou sempre) em crise. Eu só tinha uma Zenit com uma lente de 50mm (que aliás está na minha estante até hoje), algumas ideias e um PC 386. Fui parar em um ferro-velho atrás de antigos bonequinhos de Totó (Pebolim). Ganhei o concurso, a vaga e o resto é história. Não tenho mais exemplares dessas fotos, mas me lembrou isso de arrumar objetos. :)
Para entender um pouco mais sobre o projeto "Fragments" →
Biscoitinhos da edição mais biscoiteira dos últimos tempos por que quem responde a pesquisa merece
Um novo estudo no campo da física da informação sugere que estamos vivendo em uma simulação. O autor argumenta que a teoria da informação quântica e a existência de estruturas matemáticas universais indicam que o nosso universo pode ser uma construção computacional. Se você não for um NPC, pode ler o artigo no the Register →
Para a surpresa de nenhuma pessoa que já leu uma edição e meia aqui da [Read][Rec][Play], tá circulando a história sobre a Amazon estar usando um algoritmo para testar o quanto poderia aumentar os preços de uma forma que os concorrentes seguissem, de acordo com trechos censurados do processo antitruste da FTC contra a empresa. Li no The Wall Street Journal →
Complementando o que falei na edição passada sobre fazer networking, encontrei um artigo interessante Psychology Today sobre "Como ter interações extraordinárias". Ele oferece algumas dicas práticas para melhorar nossas habilidades de comunicação, como prestar atenção plena, mostrar empatia, fazer perguntas abertas e genuinamente interessar-se pelos outros. Vamos testar após a leitura e comentar logo abaixo, que tal? →
A RECs é uma carteira social para guardar e compartilhar seus lugares favoritos. Seus usuários podem salvar locais que gostam, como restaurantes, cafés, pontos turísticos, entre outros, e compartilhá-los com seus amigos. A plataforma permite que os usuários façam recomendações e descubram novos lugares com base nas recomendações de seus amigos. Quem lembra do FourSquare? Era isso que ele fazia-faz, não?! Dá uma lida no artigo da TechCrunch e me ajuda a lembrar! →
Para quem fala alto, vi na DesignBoom sobre o "Shiftall MuTalk", um microfone portátil e à prova de som, projetado para abafar a voz de pessoas que falam alto em locais públicos. O microfone utiliza tecnologia Bluetooth para se conectar a dispositivos móveis, permitindo o controle do nível de abafamento da voz. Não parece uma parada meio distópica filha de 1984 com The Handmaids Tale? →
Já tem gente debatendo como proteger os direitos autorais das suas criações de I.A. discute o processo de copyright para criações de inteligência artificial. Esbarrei lá no Hackernoon em um artigo que debate a importância de proteger legalmente as inovações de IA e fornece orientações sobre como registrar os direitos autorais de um projeto de IA. O artigo destaca a necessidade de documentar adequadamente o processo de criação e os resultados alcançados, além de fornecer dicas sobre como redigir uma descrição clara e precisa da criação de IA ao registrar os direitos autorais →
Os conectados na produção visual testemunharam a Adobe colocando os pés no mundo pós-A.I, ao apresentar um novo projeto chamado "Stardust" durante o evento Adobe MAX. O Stardust é uma ferramenta de edição de fotos com recursos de inteligência artificial. Ele promete simplificar e aprimorar o processo de edição de fotos, permitindo que os usuários apliquem filtros e ajustes automáticos com facilidade. O projeto “Stardust” ainda está em fase de desenvolvimento e não há informações sobre sua data de lançamento oficial →
Enquanto isso, Canva lançou o Canva Magic Studio, uma nova ferramenta de design impulsionada por I.A. O novo brinquedinho foi projetado para ajudar usuários a criar designs de forma mais rápida e fácil, usando recursos como o Magic Resize, que ajusta automaticamente os tamanhos de design para diferentes formatos. A ferramenta também oferece sugestões contextuais e recomendações de design com base nos elementos selecionados. Estou começando a pensar em migrar para este tipo de solução na minha produção pessoal. Alguém indica? Leiam aqui →
Última sobre I.A, prometo. Mas é que o tal de Neuralbox, um app para iPhone, me pegou ao prometer uma "memória fotográfica" alimentada por inteligência artificial. O aplicativo permite que os usuários tirem fotos de qualquer coisa e, em seguida, faça perguntas sobre os detalhes das imagens capturadas. Através do uso de algoritmos de aprendizado de máquina, o aplicativo é capaz de responder às perguntas com precisão, fornecendo uma espécie de "memória virtual" para o usuário. Bora testar? →
Movimento interessante sobre essa tal de Privacidade, o app Permission Slip, disponível para iPhone e Android. Esse aplicativo foi desenvolvido pela organização sem fins lucrativos Consumer Reports e permite que os usuários solicitem às empresas que excluam suas informações pessoais. Esse eu vi no Instagram do Washington Post →
Acho que por essa semana, foi isso. Comentem e me ajudem a divulgar porque dá um trabalhão produzir, viu?
Sobre isso de acelerar processos, estou registrando os bastidores do meu dia a dia de captura de links, sua organização e aceleração de leitura. Para ilustração de vocês, olha como essa edição é antes de virar texto final.
Funciona assim: a cada artigo marcado como estrelado ou link enviado do Artifact, alimento um banco de dados central no Notion. Depois, tagueio por lá o que vai para cada edição e em que categoria: cérebro é a minha big story; teclados são blocos e biscoitinhos são eles mesmos.
O legal aqui é que uso aceleradores de I.A. para fazerem uma primeira leitura dos conteúdos. Daí, cada linha tem uma fichinha de “pré-texto ". Que fica mais ou menos assim:
Com isso, eu aumentei o tempo dedicado aquilo que importa: garimpar informações legais para vocês; na mesma medida que encurtei drasticamente o tempo de produção da edição final, organizada na manhã de terça-feira antes da saída da edição.
Estou preparando um vídeo sobre o processo para os assinantes aqui da news. Aliás, se você ainda não é, fica a dica e o botão:
Muito bom! O texto sobre o trabalho de Jane Housham conectou com duas coisas nas minhas lembranças. A artista plástica brasileira Rosângela Rennó que em uma de suas obras tinha um procedimento parecido de colecionar álbuns de fotos de feiras de antiguidade e depois organizá-los em coleções. E o autor W. G. Sebald que também colecionava fotos de desconhecidos para posicionar em seus livros como se estivessem ilustrando personagens mas sem nenhuma legenda, confundindo a cabeça do leitor sobre ficção versus realidade.