Velocidade de reprodução
×
Partilhar post
Compartilhar post no momento atual
0:00
/
0:00

A estratégia do Spotify para podcasts está dando errado?

Primeiro ato: o sistema límbico dos criadores de conteúdo. Segundo ato: vocês não estão preparados para essa conversa. Terceiro ato: a realidade não é para contadores de histórias.
(antes de começar, queria lembrar que temos um servidor no Discord e um grupo no Telegram para seguirmos conversando durante a semana. Passem por lá!)

Resolvo começar a edição da semana lembrando que a partir de 2016, o Spotify fez acontecer o ano do podcast no Brasil e no mundo. E que a empresa fundada por Daniel Ek entrou para o mercado com pompa e circunstância e nada mais soou da mesma forma.

Lembro que desde lá, novas produtoras se apresentaram ao mercado, grandes players de mídia entraram na jogada tentando doutrinar grandes massas sobre sua opinião corporativa sobre o formato e o resto é a história que estamos construindo todos os dias, como lembra o post que publiquei no final da semana passada no site que deu origem à esta newsletter.

Sinalizo como alerta máximo à minha provável audiência de que a história não fica só por aí. Passados sete anos, temos alguns sinais de fumaça no latifúndio do maior streaming de música. Faço um convite em forma de botão: leia o artigo que preparei sobre o tema.

Percebo que podem faltar motivos e, por isso, complemento: por lá, vou contar como uma estratégia de crescimento - que misturou celebridades e conteúdo exclusivo - fez o Spotify chegar aonde chegou, o que isso gerou, o que vem por aí no mundo das narrativas em áudio e como isso se insere em um raciocínio mais amplo sobre a filosofia das plataformas e do mundo atual e, claro, sobre o prazer de criar conteúdo.

Respiro e mentalizo: que muitos cliquem. Precisamos conversar sobre isso em uma plataforma proprietária. :)

Leia agora

I.

Esforço = Dopamina, na versão de Ali Gallop

Como primeiro ato pós abertura, resolvo fazer uma declaração que pode chocar você que chegou há pouco: em 11 de outubro de 2023 completarei vinte anos de produção de conteúdo ininterrupta para o meio digital. Eu estava por aqui quase que desde sempre, em resumo.

Se duvida, cabe googlar "cliente de marca pirateada” e chegar no primeiro artigo que publiquei aqui. Acredite se quiser, desde este dia (me lembro onde estava sentado, em que empresa trabalhava etc) até hoje, ainda mantenho o mesmo prazer em pesquisar, criar os roteiros, gravar, editar, publicar… e paradoxalmente, cultivar uma audiência pequena. Porque Deus é irônico, ainda que sábio. Ou vice-versa.

No momento atual, inclusive, sigo perseguindo um formato em vídeo que me satisfaça em produzi-lo na mesma medida que foi assistir a este vídeo do Ali Gallop sobre como o processo criativo é importante para o próprio criador.

Gallop, que já foi diretor criativo no Facebook e hoje tem sua própria consultoria, a There's this place, justifica sua afirmação a partir de uma mirada pseudo-neuropsíquica. Sim, tem gente que sabe o que fala.

Segundo sua hipótese, ao utilizar robozinhos de Inteligência Artificial o que fazemos é romper um ciclo que conecta nosso cérebro à audiência para qual disparamos nossas narrativas. Neste ciclo, depois de uma ideia seminal, empregamos muito esforço até chegar em soluções criativas. Este esforço, dispara Dopamina na circulação do criador. Ou seja, quando rompemos esse ciclo, temos menos Dopamina no cérebro.

ERGO: Robôs repetidores de fórmulas fazem criadores menos felizes.

Penso que indicar este vídeo aqui valeria apenas pela crítica realista sobre o peso que ferramentas de I.A. terão na vida dos criadores daqui pra frente como, aliás, demonstrei em edição recente.

Mas tem outra coisa: como prova do próprio conceito que pretende defender, Gallop nos entrega um formato inovador. Uma espécie de Jump-cut narrativo extremo que traz pra frente a narrativa e usa a locação e a edição como ferramentas e não protagonistas. E é uma delícia ver como ele curtiu produzir tudo isso.

Ou seja, sua forma de contar histórias nos conecta em um nível quase primal com o motivo pelo qual escolheu contá-las.

Entenderam sobre o que é produzir conteúdo afinal? Curiosamente, um contador de histórias deste nível tem um alcance bem mixuruco:

Trezentos e cinquenta e sete assinantes em seu canal no YouTube. Isso diz muita coisa sobre o momento que estamos vivendo.

Leave a comment

II.

Eu vi. Mas sei lá, viu…

Olho ao redor e, além de me desfazer em mais um dia de calor desagradável na cidade do Rio de Janeiro, me permito outra sensação, essa reconfortante. E assim sorrio solitário enquanto sou inspirado por esta playlist, sim, no mesmo Spotify pantagruélico que quer devorar a todos os podcasts do mundo.

E começo o segundo ato que vai falar de outra história muito bem contada; não sobre a indústria das plataformas ou sobre a sobrevida dos criadores em um mundo de autômatos que nos lembram mais o Turco de Wolfgang von Kempelen do que o protagonista do Eu, Robô de Asimov.

E tem a ver com o aclamado “Tudo em Todo Lugar ao mesmo Tempo” (Daniel Scheinert, Daniel Kwan, 2022). A história começa com um surto de histeria coletiva que transforma um filme apenas mediano em uma obra de arte definitiva sobre o conceito de multiverso. Passa por resenhas animadas, TikToks emocionados, críticas e até mesmo uma nota 8 de 10 no imdb.

Passa por tudo isso, mas não fica por aí. Nessa história, no segundo ato da edição desta semana, eu sinalizo que esperei chegar no Prime Video, dei um [PLAY] descompromissado e não consegui ter outra opinião: é uma versão de Kung-Fusão que quer ser filme de arte.

Mas o segundo ato se encerra com um pano rápido, porque vocês não estão preparamos para essa conversa.

III.

A realidade não faz bem para contadores de histórias

Lembro que o mundo é um lugar louco e às vezes cabe a nós jogar luzes sobre loucurinhas para tentarmos debater sobre como elas transbordam para o mundo da Cultura Pop e são regurgitados de volta.

E assim começo o terceiro ato, com a sequência de vídeos recentes da criadores Carol Capel sobre sua viagem/expedição ao Egito.

Antes de mais nada, cabe lembrar que o trabalho da Capel é muito bem feito. Os roteiros são ótimos, a produção impecável (ela viajou para o Egito, ora bolas!) e, vejam vocês, não descobri o canal por acaso. Sou seu assinante.

Mas a conexão que eu proponho entre os atos I, II e III de nossa edição de hoje é aquela quero ver viajar direto para o nosso servidor no Discord. Vamos a ela.


Se é verdade que criadores como Ali Gallop seguem um ritual produtivo e recompensador tanto para quem produz quanto quem consome seu conteúdo, é também verdade que temos espaço para quem hackeou essa mesma produção, falando o que plataformas querem ouvir, (re)produzindo - com ou sem a ajuda de autômatos semi-conscientes - , fórmulas que até agora deram certo.

Os dois casos, contudo, não dependem de Inteligência Artificial para acontecerem. Mas, por outro lado, todas as ferramentas que nasceram nos últimos dois anos, alimentam-se de padrões criadores por estes produtores de conteúdo para fazer a sua análise combinatória. E, assim, cuspir resultados que parecem mágicos mas são só, estatísticos. E de linha de corte bem medíocre, diga-se de passagem.

Agora, projete-se no futuro. Vamos dizer que paremos HOJE, ou se preferir, em 11 de Outubro de 2023, a produção de conteúdo. Qual a sua opinião:

Em quanto tempo o material gerado pelos repetidores de padrão simplesmente deixará de fazer sentido?

Comentar no Discord

Tem aquela história do autor que queria aprender a montar a divulgação de seu novo livro…

Na obra-prima de sua vida, o Autor - que vamos chamar assim pois ele renegou o protagonismo ao contar a história de outros -, estava em um dilema: precisava aprender sobre as artes das redes telemáticas e falar sobre sua história para mais exemplares vender. Só que não tinha tempo. O que fazer?

Contar com o tempo de quem já está há muito nessa estrada, na forma de uma assinatura mensal desta newsletter aqui, ora essa. Por apenas R$ 7 mensais, os assinantes da newsletter garantem:

  1. Acesso direto à íntegra de materiais das minhas pesquisas, o que é uma super-referência;

  2. E como conversa é o que move o mundo, temos um grupo fechadíssimo em nosso Telegram para seguir conversando, indicando leituras e debatendo os temas dos programas. Normalmente, entro em contato tão logo a pessoa assine. Mas, caso tenha deixado passar, fala comigo!

  3. Você têm uma hora por mês de assinatura para trocar uma ideia comigo sobre projetos de conteúdo. Não é bem uma mentoria, é um papo, sabe? Pode trazer sua dúvida, uma ideia, um pedido de revisão etc.

Caiu na minha caixa postal mas poderia estar na sua

O

é o autor do Clube da Luta. Ponto. Precisa mais? Sim.

Pois: foi ao ouvir a narração de um dos seus livros no AntiCast (o primeiro podcast do Ivan Mizanzuk que você deve conhecer pelo Projeto Humanos) que eu conheci o Paulo Carvalho, do Caixa de Histórias. Em 2020 quando comecei a minha pesquisa de Mestrado, Paulo foi um dos produtores que estudei. Pronto, está provada a teoria dos sete graus de separação.

Voltando: sua newsletter é uma experiência particular, verborrágica e sem parâmetros por aqui. Recomendo. ou não. Sei lá.

Você já sabe: a experiência de ler as newsletters aqui no Substak é bem mais legal no App. Baixa lá!

Read [Read][Rec][Play] in the Substack app
Available for iOS and Android

Biscoitinhos para a provável audiência que também vive na fronteira entre tecnologia, comunicação e cultura

  1. Leo Lopes (o primeiro editor profissional de Podcasts do Brasil) está com um projeto bem legal, a CastNews, um blog/news sobre o mercado de podcasts. Acompanhe aqui e entenda um pouco mais desse mundo sonoro »

  2. Para não dizer que fiz o tio ranzinza que não gosta das novidades do streaming, dei [PLAY] também na segunda temporada de Hunters (Prime Video, 2023). O plot está quase o mesmo: um esquadrão de judeus que caça Nazistas nos anos 70 em Nova York. Se você não viu a primeira temporada, não vou adiantar o spoiler, mas na segunda eles vão atrás de algo um pouquinho maior. »

  3. Rolou também o [PLAY] em White Noise (Netflix, 2022): De longe, parecia um Capitão Fantástico, de perto, um Clube da Luta. Surreal e non-sense. E meio confuso. »

  4. Em meio a compromissos no último sábado esbarrei no novo do Lourenço Mutarelli, “O Livro dos Mortos”. Alguém já leu? »


E é isso. Até semana que vem!

1 Comentário
mauroamaral.com no Substack
mauroamaral.com no Substack
Autores
mauroamaral.com