Estava em um grande centro comercial e andava por entre corredores, ternos e sobrancelhas arqueadas tentando fazer algo que, na realidade onírica - a única possível e com a qual me identifico fortemente -, fazia sentido: precisava ver o saldo no aplicativo do banco.
Eu tentava: abria normalmente, a biometria não funcionava; abria várias janelas no navegador e todas elas se sobrepunham, sem resultado. Tentava ainda olhar em volta e o que via era uma enorme quantidade de pessoas, todas estavam tão ocupadas com seus queixos colados em seus colos, como autômatos quasímodos de ombros congelados. Faltava ar em um ambiente que não se precisa respirar.
Era a [B3], a Bolsa Brasileira. Eu nunca investi na bolsa, salvo ter direcionado uma vez parte do meu FGTS para compras partes da Vale do Rio Doce. Perdi. Mas era lá.
E, então, acontece: noto que eu era japonês. Algo parecido com aquele futurologista, o Michio Kaku que andou fazendo uns programas no Discovery Channel. Mas o estilo é mais de um artista japonês, com roupão Samurai e certo ar superior. Mas o que acontece de fato é que o smartphone no qual eu tentava abrir o app e ver o saldo se transforma em um tecido parecido com linho (ou papiro?) que se extende por um imenso saguão como a cauda de um sobretudo infinito. Tento decifrar ali o saldo, puxo mais e mais tecido e os ideogramas não me mostram solução.
Caiu exausto, com o linho amassado nas mãos, fazendo o imenso tecido de cobertor (mortalha?) e fito o vazio, estático.
Acordo sem saber quanto era meu saldo no banco dos sonhos.
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Caderno de sonhos: o japonês da [B3]
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Estava em um grande centro comercial e andava por entre corredores, ternos e sobrancelhas arqueadas tentando fazer algo que, na realidade onírica - a única possível e com a qual me identifico fortemente -, fazia sentido: precisava ver o saldo no aplicativo do banco.
Eu tentava: abria normalmente, a biometria não funcionava; abria várias janelas no navegador e todas elas se sobrepunham, sem resultado. Tentava ainda olhar em volta e o que via era uma enorme quantidade de pessoas, todas estavam tão ocupadas com seus queixos colados em seus colos, como autômatos quasímodos de ombros congelados. Faltava ar em um ambiente que não se precisa respirar.
Era a [B3], a Bolsa Brasileira. Eu nunca investi na bolsa, salvo ter direcionado uma vez parte do meu FGTS para compras partes da Vale do Rio Doce. Perdi. Mas era lá.
E, então, acontece: noto que eu era japonês. Algo parecido com aquele futurologista, o Michio Kaku que andou fazendo uns programas no Discovery Channel. Mas o estilo é mais de um artista japonês, com roupão Samurai e certo ar superior. Mas o que acontece de fato é que o smartphone no qual eu tentava abrir o app e ver o saldo se transforma em um tecido parecido com linho (ou papiro?) que se extende por um imenso saguão como a cauda de um sobretudo infinito. Tento decifrar ali o saldo, puxo mais e mais tecido e os ideogramas não me mostram solução.
Caiu exausto, com o linho amassado nas mãos, fazendo o imenso tecido de cobertor (mortalha?) e fito o vazio, estático.
Acordo sem saber quanto era meu saldo no banco dos sonhos.