Cena 1, externa, noite
Aquela em que refaço caminhos de tempos relativos e me surpreendo com um final inusitado.
Saio cedo porque queria chegar um pouco mais tarde. E se essa frase é estranha para você, é porque provavelmente morou perto das coisas a vida inteira. Quando se mora longe do mundo, vivemos na prática a relatividade do tempo, o tempo todo. Mas, desta vez não fez tanta diferença porque o caminho contou tanto quanto os momentos de confraternização da terça-feira vinte e oito de novembro. A edição de hoje é para explicar porquê.
É que calhou de escolherem uma casa de festas que ficava no EXATO caminho do meu segundo estágio. Pagava tão pouco que era em espécie, algumas notas quase amassadas que eu guardava no fundo da gaveta e que de lá saíam para pequenos lazeres de finais de semana, todos eles que me desagradavam, mais isso é outra história; ganhava também pequenos tickets de papel destacável que franqueavam minha entrada no ônibus do bairro, deste até o metrô e da Estação Carioca até o ponto final do Executivo que me levava, finalmente, para as últimas duas horas de trajeto. Todos os dias de uma rotina que transbordava de objetivos ilusórios.
Lembrei disso quando refazia o mesmo tipo de comutação entre três tipos de transporte para comparecer a este evento profissional. Reparo que pouca coisa mudou, mas foram mudanças suficientes para gerar um “uncanny valley” urbano.
O Largo do Machado1 parece ter sofrido algum tipo de revitalização, os mendigos sumiram, os restaurantes reabriram, a casa de eletrônicos onde comprei o primeiro presente caro para a então namorada (na época já estava no primeiro EMPREGO que aposentou a gaveta e me abriu uma conta em um banco, com até, vejam vocês, folhas de cheque) virou uma lanchonete que vende baldes de frango frito.
Faço um comentário mental sobre os motivos do frango frito não ter pego no Brasil, que é uma iguaria do Sul dos EUA, esta marca inclusive estampa a iconografia de um dono de Plantation2 sulista. E estou preso nestes pensamentos quando ouço o povo da praça comentar: “Metrô fechado”.
Lembro de me sintonizar mais uma vez no tempo presente e recorro às suas facilidades e me deparo com:
Me entristeço por alguns segundos com a crueldade da metáfora que - provavelmente - sinaliza um fim trágico de alguém na terça-feira vinte e oito de setembro, de qualquer ano, mas neste caso o último do passageiro desconhecido.
Circulo pelo bairro em vão, aplicativos entram em pane e desisto de comprometer o cartão de crédito com viagens que jamais existirão. Olho para as minhas mãos ocupadas, a chuva cai. A ideia para este texto vem, quando olho mais uma vez para a brincadeira que havia nos divertido horas atrás:
Penso que interpretamos nossos papéis, tendo a certeza de cenários fixos e isso é uma grande suspensão de descrença que nos permite seguir seguindo o inseguível da vida.
No final do dia, somos nossos próprios heróis mal-vestidos que usam cuecas por cima de calças e voam sem sair do chão.
E por hoje, depois de ontem, foi isso.
Até semana que vem com a volta de biscoitinhos e aquilo que me chamar atenção da tríplice fronteira entre tecnologia, comunicação e cultura.
Ah, esqueci de comentar!
Embora siga investindo por aqui na análise destes acontecimentos todos, tomei uma decisão importante que foi levar a pesquisa sobre I.As Generativas para outra newsletter, lá no Linkedin.
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Sim, toda essa verve poética precisa de boletos pagos, pessoal. :/
Segue o prompt: A realistic photograph-like image of the Largo do Machado metro station in Rio de Janeiro on a sunny summer day. The scene is captured as if through a 100mm lens, providing a focused and detailed perspective. The station's architecture stands out prominently, surrounded by a diverse crowd of people in summer attire, reflecting a blend of descents including Caucasian, Hispanic, Black, and South Asian. People are engaged in various activities such as walking, talking, and shopping, with tropical trees and vibrant summer skies enhancing the ambiance.
Para entender sobre o sistema de Plantation, que você viu em Django Livre, por exemplo →
Merecidíssimo troféu de melhor cenário para videoconferências!