Notas de pé de página em livros medievais, A.I. na literatura e pontes falsas
→ Gen-Z não quer saber de faculdade nos EUA → a I.A. pode estar dificultando a vida de escritores, além de falar várias línguas → Google Maps e uma ponte que não estava lá → Biscoitinhos.
Eles já são mais de 30 e desde 1985 se acumulam silenciosos após o uso. Os revisito, abrindo portões de ferro sem tranca, embolorados ainda que intimidantes. E assim apresentam uma coleção de tipos, frases, códigos, resoluções não transformadas em realizações, caricaturas, esquemas, mapas mentais, ilustrações, além de listas e mais listas de tarefas. TO-DO or not TO-DO, eis a questão.
Em todos eles, os anos me mostraram que o orbital é tão ou mais relevante do que o central. Pedindo perdão pela ousadia auto-centrada: me lembram teoremas de Fermat1, esquecidos, ainda que não tão inspirados. Anotações sem conclusão à margem de um tempo que já passou. Amar-e-lando.
Penso que são como pedras de caminho, marcando milhas em estradas da PAX Romana2 de milênios atrás. E como se fosse o judeu errante em terras de gentios, sigo redescobrindo ensinamentos. O mais recente, é que este tipo de anotação têm um nome histórico: são os acrósticos.3
Tá, não são os meus exatamente isso. Mas, para efeito da abertura desta edição e pedido à provável audiência, sinalizo ser a história destas notas enigmáticas em antigos manuscritos medievais o fio de ligação na trama de hoje.
O fato é que existe um relógio da meia-noite que marca 23h59 quando o assunto é a forma de criar nossas histórias. E os ponteiros somos nozes em todos os idiomas que não falamos. E descobrir e tentar decodificar os acrósticos do contemporâneo pode ser uma forma de entender melhor o tal estado de coisas que nos cercam.
Você vai ler a seguir: OpenAI vai traduzir a sua voz enquanto a GenZ nem pensa em entrar em faculdade nos EUA, ao mesmo tempo em que I.As. seguem dificultando a vida de escritores, sem esquecer do estranho caso do Google Maps e uma ponte que não estava lá. E, claro, biscoitinhos para fechar.
Vem comigo?
[REC] → Eu, o host, em três atos
Antes de seguirmos, cabe um momento para divulgação da minha produção enquanto podcaster e criador de conteúdo. Três atos e pano rápido:
Ato 1: episódio entregue com o objetivo de levar o básico do básico sobre a Teoria da Evolução para a audiência do Podcast do BioParque do Rio. Contei com a participação sempre ativa e perspicaz de Daniel Serieiro, educador ambiental e quase podcaster.
Ato 2: Teve também episódio novo do Podcast do AquaRio que em sua primeira temporada conversa com educadores sobre os desafios de se fazer pesquisa enquanto o público se diverte. Com o tema “essa tal sustentabilidade” conversei com a Ambientalista Monise Alves sobre os desafios deste equilíbrio quase utópico entre progresso e futuro do planeta.
Ato 3: Na guerra de formatos, tentando trabalhar vídeos curtos porém sem dancinhas pois não sou obrigado, pensei nesse Reels aqui.
Pano rápido. Voosh.
[READ] → ChatGPT atualiza e traduz vozes nos podcasts do Spotify
Na busca por acrósticos de nosso tempo, a primeira nota na margem do livro do tempo nos conta que o 🤖 ChatGPT da OpenAI acaba de ganhar uma atualização significativa.
Agora, além de responder em texto, agora ele fala e busca por imagens. Mas, o ponto relevante nessa novidade que saiu em todos os cantos é que ele não está sozinho!
Este mundo dominado pelas plataformas nos ajuda a entender que o 🎙️ Spotify está usando a mesma tecnologia de IA para traduzir podcasts para outros idiomas, mantendo a voz original do podcaster.
Gosto como plataformas fingem não entender que a língua é uma manifestação cultural e cheia de particularidades. Gosto de disfarçar que não fui irônico com a frase anterior.
E vocês, o que acham? 🤔 Vamos Conversar?:
[READ] → A fascinante jornada de um escritor na Era da IA
Vauhini Vara trouxe um relato pessoal sobre sua jornada no mundo da I.A generativa e com ela outra possibilidade de encontrar mais um código escondido nas páginas do livro do tempo.
O que mais me chamou a atenção foi como essa jornada do autor ecoa as preocupações que muitos de nós temos sobre a integração da IA na educação. Se uma IA pode ajudar um escritor experiente a encontrar novas formas de expressão, imagine o que ela poderia fazer por um estudante lutando para articular suas ideias?
No entanto, isso também me fez pensar nas implicações éticas. Quem detém o poder sobre essa tecnologia e como ela pode ser usada para moldar ou limitar a criatividade em um ambiente educacional?
Se eu fosse você, prestaria atenção ao que a matéria traz:
Autenticidade e Originalidade: A IA pode gerar texto que é emocionalmente ressonante e bem escrito, mas isso levanta questões sobre a autenticidade e a originalidade do trabalho.
Desvalorização da Escrita Humana: Existe o risco de que a IA possa ser vista como uma ferramenta que torna o trabalho humano redundante, similar ao que aconteceu com cavalos quando os carros foram inventados.
Uniformidade e Estereótipos: A IA pode gerar texto que é clichê ou que reflete os vieses e estereótipos presentes nos dados de treinamento. Isso pode levar a uma literatura homogênea e menos rica.
Comercialização da Linguagem: A IA é uma tecnologia cara que está nas mãos de grandes corporações. Isso pode levar à comercialização da linguagem e da literatura, afetando a economia da escrita.
Questões Éticas: Há preocupações sobre o consentimento dos autores cujo trabalho é usado para treinar modelos de IA, bem como sobre a compensação justa para esses autores.
No Brasil, onde a literatura e a cultura já enfrentam desafios como falta de financiamento e acesso (ou ainda, onde essa dificuldade é um projeto de vez em quando muito bem implementado4), a entrada da IA na escrita pode complicar ainda mais o cenário.
O artigo completo está aqui para você tirar suas próprias conclusões e trazer nos comentários →
[READ] → O duvidoso futuro da Educação Superior nos EUA
Se a vida de profissionais da palavra se complica, imagina aquela de quem ainda sequer encontrou um caminho? No mais recente episódio do podcast "Have a Nice Future" da WIRED, a gente mergulha profundamente na crise emergente na educação superior nos Estados Unidos.
O jornalista e autor Paul Tough discute três questões críticas que estão reformulando o cenário das Universidades americanas:
Aumento das Taxas de Matrícula: As taxas de matrícula dobraram nos últimos 30 anos, tornando o ensino superior cada vez mais inacessível. Este aumento é parcialmente atribuído à diminuição do financiamento público e à "corrida por comodidades" que as faculdades privadas oferecem para atrair estudantes ricos;
Retorno Decrescente sobre o Investimento: O ensino superior já não é mais a garantia de sucesso financeiro que costumava ser. Estudos recentes mostram que o "prêmio de riqueza universitária" está desaparecendo, especialmente para as gerações mais jovens e para minorias étnicas.
Desigualdade no Acesso à Educação: Instituições como o Arrupe College em Chicago estão tentando nivelar o campo de jogo, oferecendo educação de qualidade a um custo acessível. No entanto, essas são exceções em um sistema cada vez mais estratificado.
O futuro da educação superior nos EUA está em um ponto crítico, e as decisões que tomamos agora terão repercussões duradouras. É hora de repensar como abordamos o ensino superior, tanto em termos de custo quanto de inclusão, para garantir que ele continue sendo um motor de mobilidade social.
Para uma análise mais aprofundada, confira o artigo completo da WIRED →
[READ] → A ponte que partiu
Se criar passa por dilemas, formar-se já virou um sonho distante para muitos, voltar-se para a Deus Ex-Machina das plataformas não é certeza de solução sempre. Sabemos disso, na verdade.
Mas, às vezes, a própria realidade escreve um código nada secreto na nossa cara. Veja o caso recente que li na Ars Technica.
Um homem que perdeu a vida devido a um erro fatal do Google Maps nos faz refletir sobre a ética em IA. O homem foi direcionado para uma ponte desmoronada, e o Google, mesmo após ser notificado várias vezes sobre o erro, não corrigiu o mapa. Isso levanta sérias questões sobre a responsabilidade das empresas de tecnologia e a ética em IA.
Se os acrósticos na literatura clássica servem como mensagens ocultas que exigem um nível de habilidade para serem decifradas, podemos pensar na tecnologia moderna como os "acrósticos" da nossa era. Estamos tão acostumados a depender de algoritmos e mapas digitais que, quando essas "mensagens codificadas" falham, nos encontramos perdidos, tanto literal quanto figurativamente.
A tragédia nos mostra como estamos submissos à tecnologia, a ponto de falharmos em navegar por nós mesmos. É como se tivéssemos esquecido como ler os "acrósticos" da vida real, aqueles sinais e intuições que nos guiam quando a tecnologia falha.
Para uma análise mais aprofundada, confira o artigo completo da Ars Technica →
Atenção: biscoitinhos feitos sem a ajuda de prompts
O canal War Man traz essa leitura pouco convencional de personagem menos ainda. O apresentador se pergunta se é mesmo sinal de loucura de Jim Carrey duvidar da insanidade de um mercado tão escroto quanto o de Hollywood →
Resumo rápido de artigo acadêmico: Leonardo DeMarchi e João Martins Ladeira se perguntam sobre o peso do Brasil na producão audiovisual do Netflix e chegam a conclusão de que nem somos esse guaraná jesus todo →
Ainda no mesmo tom, a ComSocre liberou pesquisa recentes sobre o “estado do streaming” nos EUA. Aliás, foi esse o tema para o reels que mostrei no início. O relatório da pesquisa está aqui →
E já que trouxe relato de jornalista que viveu os primórdios da I.A. generativa, vale lembrar que George R R Martin e mais alguns escritores estão processando a Open AI por uso indevido de suas obras →
Para entender o contexto, dá uma lida aqui →
Hoje eu estou só o baú de referências, mas essa aqui vai ajudar você e entender um monte de coisas no mundo ocidental →
Essa eu descobri no site AEON neste artigo. Ela vai discutir o fascínio e a importância dos acrósticos na literatura clássica. Acrósticos são mensagens ocultas que podem ser lidas ao pegar a primeira, a segunda ou outra letra de cada linha ou parágrafo de um texto →
Este pensamento/fala é do saudoso Darcy Ribeiro, criador de duas universidades, a Universidade de Brasília e a Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro. Além disso, criou e implementou os CIEPs enquanto atuava como vice-governador e secretário de cultura do Estado do Rio de Janeiro, na década de 80 →
Sobre IA e literatura, me ocorreu um pensamento ironicamente curioso: quem vai escrever pulp fiction no futuro não será humano. As obras boas mesmo, só nós.