O que os criadores querem afinal?
Estamos em dúvida há uns mil anos eu acho. Mas estou em dúvida sobre a data precisa.
Antes, vale lembrar que estou me dedicando a abastecer meu algoritmo rápido com pitadinhas de pensamentos aqui e ali. Se você chegou agora por aqui e não sabe do que estou falando, classifico as redes sociais pela velocidade de seus algoritmos. E sua generosidade na entrega. Por isso, o Threads é um dos mais rápidos. Segue lá!
Quando Ariosto decidiu entrar para o mosteiro em 1130, na Bélgica, queria aprender a fazer cerveja e… iluminuras. A mistura de temas - que às vezes se convertia em misturas de substâncias quando os gatos do ambiente cismavam de derrubar aquelas por sobre essas -, causou estranheza na família. Mas, até aí, Ari era estanho. Viva querendo coisas quando a sua volta todos queriam apenas sobreviver.
Quando Henry circulava por Florença, 300 anos depois fugia de duas coisas: a Peste e a rotina. Sobreviveu às duas como aprendiz de uma Guilda de Signore Pelegrino, perto de sua casa, onde aprendeu todas as técnicas de pintura e escultura, como era o costume dos rapazes mais inventivos - e ricos - da época. Infelizmente partiu cedo, aos 25 anos, sem realizar a sua obra-prima. Escorregou do andaime.
Destino um tanto quanto diferente ocorreu com Berta Flemming, que ia para cima e para baixo - do Picadilly apenas, mas ia -, com a sua Remington portátil querendo escrever o romance de sua geração, a de 1890, que veria tanta coisa mudar. Ela mesma, enfrentando tudo e a todos, era prova viva da mudança. Não casou, nem teve filhos, teve contos publicados e noveletas em capítulos nos jornais de Londres da época, que garantiram certa subsistência.
Ela almejava mais do que subsistência, queria eternidade. Mas largou tudo na virada do século, indo parar no Rio de Janeiro da República Velha, em um estúdio de fotografias. Sra. Beta curtia chopp na sexta-feira na Rua Direita. E ninguém entendia seu olhar distante… era Banzo, dizia Dona Ciata, que vendia cocadas ao seu lado.
O mesmo sentimento de uma terra que nunca mais visitaria, tiveram e têm todos que, por obra do acaso ou falta de correta explicação, ousaram se considerar criadores de alguma forma. Padeceram de banzo, saudade de futuro, de síndrome de Cassandra1, ou qualquer outro apelido que sua época resolva dar para aqueles que visualizam o que vem por aí, mas não petiscam sua parte do espólio.
Por que olhando à distância, das vielas da Bélgica, praças de Florença, Pubs de Londres e Botequins do Rio antigo, todos ao redor deles perguntam sempre a mesma coisa:
Afinal, o que querem os criadores?
Fiquei pensando nestes personagens absolutamente fictícios quando li o artigo de Edward Ogunrinde no The Drum que registra um momento bem particular de nossos criadores em busca por propriedade e controle sobre seu conteúdo.
Ocorre que com plataformas tradicionais, como Meta e TikTok, dominando a distribuição e monetização de conteúdo, a necessidade de alternativas mais justas e transparentes nunca foi tão evidente. Espaços como este aqui, o Substaquinho com sua filosofia de “você possue o que cria”, estão liderando essa transformação, permitindo que os criadores possuam plenamente o que produzem.
Mas vale lembrar que isso contrasta fortemente com a experiência de muitos criadores em plataformas tradicionais, que frequentemente se encontram à mercê de algoritmos imprecisos e de um sistema monetário irregular.
Quinhentos bilhões de helicópteros e um dólar.
A economia dos criadores está prestes a atingir US$ 500 bilhões até 2027, impulsionada por empresas como a Unilever e Dior, focando no marketing liderado por criadores, muitos deles contratados diretamente. Num mercado em expansão, as expectativas dos criadores também crescem, buscando equidade e uma participação justa.
A questão deixada para as plataformas legadas é se conseguirão evoluir rapidamente e acompanhar essa tentativa de “bebermos água no hidrante”, tamanha é a velocidade e fluxo das mudanças.
Ou se, na verdade, precisamos delas.
Biscoitinhos ideais para provar na companhia de cervejas belgas de 1130
🌟🎵 Esse aqui bombou: mais de 24 mil views no Threads | Publiquei despretenciosamente no Threads semana passada e a veio gente de todo lado comentar seus shows preferidos. Vem conhecer onde a mágica acontece, explicando os bastidores do Tiny Desk Concerts→
🕰️ O fim de uma era nas noites da TV americana | A CBS anunciou o cancelamento do The Late Show with Stephen Colbert, encerrando uma franquia histórica que começou em 1993 com David Letterman.
A decisão, oficialmente financeira, levanta suspeitas de pressão política — especialmente após críticas de Colbert a um polêmico acordo envolvendo Trump. O que isso diz sobre o futuro da TV e da cultura pop? Confira os bastidores e impactos dessa decisão →
😈 Selos para assustar criancinhas | Nos anos 80, um movimento liderado por esposas de congressistas, conhecido como Parents Music Resource Center, promoveu uma cruzada contra as letras de rock, culminando nos adesivos "Parental Advisory: Explicit Content". Este período foi marcado pelo pânico satanista e pela repressão de músicas de artistas como Madonna e Prince. Hoje, a censura persiste de forma mais sutil através de algoritmos e normas de capital, levantando a questão sobre onde estão as discussões governamentais sobre estas novas formas de controle cultural. Confere no vídeo abaixo, ou aqui →
📚 Substack: para você entender | Já que nesta edição, exploramos como o Substack está revolucionando o mundo literário moderno, vale a leitura deste artigo da Vulture que traz exemplos de como por aqui a gente tem espaço de experimentação e autenticidade que desafia as normas editoriais tradicionais. Tá, tem problemas com gente que está tão a direita que está quase dando a volta na ilha, mas isso é papo para outra edição. Conheça como escritores renomados estão utilizando a plataforma para expandir suas narrativas e se conectar mais intimamente com seus leitores. →
Agora eu fui. Até semana que vem!
A Síndrome de Cassandra é um conceito derivado da mitologia grega, na qual Cassandra, filha do rei Príamo de Troia, recebeu o dom da profecia, mas foi amaldiçoada a nunca ser acreditada. No campo psicológico e sociológico, a expressão é usada para descrever a experiência de indivíduos — frequentemente mulheres — que percebem ou preveem situações críticas (como colapsos emocionais, crises ambientais ou sociais), mas são desacreditados por seu entorno. O termo tem sido utilizado em estudos sobre relacionamentos abusivos, alertas ignorados em contextos institucionais e fenômenos como o negacionismo climático. Para uma abordagem clínica e simbólica, ver: “The Cassandra Complex” (Laurie Layton Schapira, 1988); para leituras contemporâneas e contextos sociais, ver: “Women Who Run With the Wolves” (Clarissa Pinkola Estés, 1992) e “State of Denial” (Bob Woodward, 2006).








