

Descubra mais de [Read][Rec][Play]
Podcast vai mapear cena das newsletters enquanto I.A. quer resenhar produtos na Amazon.
E muito mais na edição semanal da newsletter que mora na fronteira entre tecnologia, comunicação e cultura.
Revisito uma cena particular muito especial em minha memória: entre os intervalos de entrevistas para a posição de redator publicitário em início de carreira, repousava em uma livraria no centro do Rio de Janeiro, pegando carona gratuita nos lançamentos e amplos sofás de couro.
Li livros inteiros desta forma, sempre muito mais interessantes do que a estreiteza geral dos entrevistadores de agências que vendiam - além da alma de seus colaboradores - carros, ações de bois de raça, cigarros, pacotes de viagens e filtros de ozônio para a não raramente poluída água da cidade. Ah, anos 90.
Curiosamente o que me lembra este momento foi uma cena particular lendo quase sem respirar o Belas Maldições de Neil Gaiman. Na cena, o anjo que adora viver no planeta terra está em busca de alguma informação e passa dias lendo em sua escrivaninha. O chá, ganha tons de decaimento até revestir-se de um bolor insistente.
Fico tentando imaginar a cena até que reparo em algo interessante: em minha mão tenho um café frio, quase caindo do braço do sofá da livraria há muito esquecido. Estou há três horas na mesma posição, a perna está dormente, lá fora, uma chuva quase silenciosa. Eu - por poucos segundos - não sabia se estava dentro da história, ou ela ocupando como que por algum encantamento ancestral - a região da rua do Ouvidor. Entendia ali o que era construir um universo próprio e viver dentro dele.
Lembro disso porque é mais ou menos como são as newsletters hoje: uma fuga para um claustro protegido e - paradoxalmente aberto a convidados - que produtores de conteúdo estão buscando criar, principalmente depois da Pandemia.
A edição desta semana tem isso e um pouco mais. Também farei uma ronda por aquilo que me chamou atenção dos movimentos da I.A. esta semana. Que só para lembrar: são ferramentas e não artesão, mas criam o artesão assim como o martelo cria o sapateiro, como diria o Flusser.1
Aliás, se você chegou aqui agora, prepare-se para as próximas, entrando para a nossa lista:
Vamos lá?
[PLAY] → Podcast sobre newsletters porque acordei metalinguístico
Começo a edição de hoje pelo podcast mais novo da semana, que acabou de sair do forno e tem sabor metalinguístico. O Newsletter Economy busca a partir do formato de projeto especial fechado e com cara de reportagem, mapear a crescente cena desta curiosa reencarnação dos blogs.
Paulo Imediato e Rodrigo James vão conversar com criadores e criadoras de narrativas -como
, , e tantas outras -, que chegam por e-mail e aplicativos dedicados e montam modelos de negócio ao redor dessa paixão pelo texto.Curiosamente, numa de tentar colaborar com o projeto, puxo aqui do bolso o ainda novo Manifesto de 2018 no qual já trazia meu insight sobre o aquecimento das cartas de novidades (aliás, excelente nome para uma news, pronto): é a retomada do contato direto entre produtores de conteúdo e sua provável audiência. Ou como disse por lá no site que deu origem à [Read][Rec][Play], mais do que sempre é importante…
…repensar a valorização dos que priorizam outro tipo de contato com o produtor de conteúdo. Ou ainda, por uma ressignificação do conceito de plataforma.
[READ] → Tico e Teco mais protegidos do que TikTok
Em um mundo cada vez mais moldado pela inteligência artificial, mídia digital e Big Data, a necessidade de proteger a liberdade cognitiva está ganhando atenção. O que é um atestado de obviedade ganhou peso ao ler na Wired que os usuários do TikTok na União Europeia poderão, em breve, desativar o algoritmo de seleção de conteúdo graças ao Ato de Serviços Digitais (DSA) da UE.
O algoritmo mais rápido do oeste aprende com as interações dos usuários para criar uma experiência altamente personalizada que pode moldar seus estados mentais, preferências e comportamentos sem seu total conhecimento ou consentimento, como nos lembra Eli Pariser2 desde há muito.
É claro que é para glorificar de pé qualquer iniciativa que vise proteger a liberdade cognitiva, o direito fundamental à autodeterminação sobre nossos cérebros e saúde mental. E, claro, só poderia vir do velho mundo, mais atento à estas fronteiras do que nós aqui do outro lado do Atlântico.
Contudo, vale lembrar que, embora leis e propostas, como o Ato de IA da UE, estejam fazendo progressos, muitas vezes elas se concentram em particularidades do problema, como privacidade do design ou minimização de dados, em vez de mapear uma abordagem abrangente para proteger nossa capacidade de pensar livremente.
Um plano bem estruturado requer uma combinação de regulamentações, incentivos e redesenhos comerciais que se concentrem na liberdade cognitiva…e a boa vontade dos bilionários que controlam a p… toda.
[READ] → IA resumindo o resumo do react
Não sei por que fingi surpresa ao ler, mas soube que a Amazon anunciou o uso de inteligência artificial generativa para ajudar os clientes a entender melhor o que as pessoas dizem sobre um produto, sem precisar ler cada avaliação individual.
A empresa usará a nova tecnologia para fornecer um breve parágrafo de texto na página do detalhe do produto que destacará os recursos do produto e o sentimento dos clientes mencionados nas avaliações. Além do texto resumido, a Amazon também destacará atributos importantes do produto como botões clicáveis. A inteligência artificial será inicialmente implementada em um subconjunto de clientes nos dispositivos móveis nos EUA.
A Amazon investe significativamente na detecção preventiva de avaliações falsas e destaca que apenas as avaliações de compras verificadas serão resumidas pela inteligência artificial. No entanto, existe uma preocupação em relação à detecção de avaliações falsas, pois a IA avança cada vez mais para soar mais humana. Não que isso seja novidade neste tipo de conteúdo, né?
(ah, lembrei por que fiquei surpreso: para a Amazon sempre fez mais sentido contratar autômatos humanos3 do que robôs)
[PLAY] → Neil Gaiman e Monty Python entraram em um bar…
Ao tempo em que disparei esta edição, mal tinha começado a segunda temporada da versão para o streaming de Belas Maldições (PrimeVideo, 2023). Mas, se deu para sacar alguma coisa, foi que melhoramos na direção de atores.
David Tennant (o demônio Crawley) e Michael Sheen (o anjo Aziraphale) seguem interessantes e as brincadeiras entre “o pessoal lá de cima” e a “turma lá de baixo” também, ainda que funcionem mais para quem se conecta com o humor inglês estilo Monty Python onde muitos dos diálogos parecem se inspirar.
É um material para se consumir com bom som porque a apresentação vocal dos dois é um diferencial: Aziraphale repleto de expressões mais antigas do que o sempre contemporâneo Craywley - que aliás, cumpre um papel de Alter Ego de Gaiman como Morpheus o faz em Sandman.
Até a gente começar a comentar por aqui, devo ter terminado, de forma que espero quem quiser falar sobre lá em nosso Discord.
Biscoitinhos para a provável audiência que também pesquisa e produz por aí com o seu A.I.
E os americanos que estão descobrindo que, quando a inflação sobe, a fidelidade às marcas cai? Achei tão singela a surpresa… →
Não sei se vocês sabem, mas a primeira vez que publiquei algo na internet, há 20 anos, falava exatamente sobre isso, no recorte do valor do consumidor de marcas piratas →
Vem aí a falência do ChatGPT? Declínio da audiência do site, canibalização de sua API e concorrência do Llama-2 chatbot da Meta estariam entre as possíveis causas da queda de uso do app que mais cresceu no segmento de IA em 2022, segundo a gHacks →
Vi no Neilman Lab (que aliás indico para quem pesquisa Jornalismo pelo mundo) que o New York Times decidiu pular fora do grupo de empresas de mídia que buscam negociar em bloco com as principais empresas de tecnologia sobre o uso de seu conteúdo para alimentar I.As →
O TikTok libera a versão post em texto batendo de frente com o X-Twitter. Comecei a testar o seu potencial, mas você pode entender melhor aqui →
Sim, tenho voltado a brincar de ilustrar. Escolhi como técnica marcadores e fine-liners. Você pode acompanhar algumas cidades retrofuturistas no meu Instragram →
Reparem que edição esmerada é essa de O Hobbit. Presente do Dia dos Pais. Aliás, parabéns a todos que comemoraram no último domingo!
É isso: acreditem no poder do contato direto com as suas audiências e nas newsletters!
Flusser fala isso no livro “O mundo codificado". Eu li um trecho neste episódio do meu podcast se você quiser conhecer.
Vale a leitura do “O filtro invisível”, do Eli Pariser. Ele foi um dos primeiros a levantar essa bola de que os algoritmos iam dar a merda que deram.
Caso a referência da imagem tenha passado despercebida, recomendo a leitura deste artigo aqui.