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Sandman na Netflix. Ou: mais lento e mais longe

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Toda quarta-feira, direto da tríplice fronteira entre tecnologia, comunicação e cultura. Falo sobre web3, podcasts, economia dos criadores e também acerca dos bastidores de minha vida de produtor de conteúdo.
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Sandman na Netflix. Ou: mais lento e mais longe

Carona rápida da integridade de autor inglês com seu ritmo e propósitos é a proposta de hoje. Vem.

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Aug 10, 2022
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E há os dias em que a comunicação se dá de forma rápida, direta e ainda assim valiosa e cheia de intenções. A tríplice fronteira entre tecnologia, comunicação e cultura nos prega destas peças: imputamos certa agilidade e instantaneidade mas tem vezes que tudo o que ouvimos do fundo da voz da intuição é um “pra que tanta pressa, Padawan?".

Digo isso por que o final de semana foi repleto de notas de anos 90 com toda essa onda de Sandman na Netflix (no dia que saiu essa newsletter ainda estava indo para o quinto episódio) acabei passando por dois pensamentos como quem esquece de puxar a cigarra e perde o ponto.

Corro. Digito. Olho e-mails, penso que amanhã será outro dia. E começo.

Fala-se pelo menos há 20 anos sobre a adaptação para o audiovisual dos arcos da obra que consagrou Neil Gaiman na cultura pop. Não faltaram outras tentativas, algumas relativamente bem sucedidas: Coraline, Lugar Nenhum e Deuses Americanos, para citar de cabeça. Mas a história dos perpétuos, até agora, não havia sido transposta.

Corro o risco de debater sob a falácia de profecia já realizada, mas sinalizo da mesma forma: é preciso ter cuidado para adaptar um clássico. Muitos ficaram pelo caminho tentando e para citar um exemplo novamente de cabeça, existiram versões bem estranhas de O Senhor dos Anéis antes de Peter Jackson. Esta, por exemplo, de 1977:

E aí para criar aqui campo para conversarmos sobre, fica uma questão: por que algumas adaptações dão certo e outras não?

(Tá bem, é o assunto mais antigo da cultura pop, mas aqui ele servirá para outra questão, confia)

Dá para arriscar algumas tentativas que ajudam determinado produto de conteúdo a navegar tranquilo para Terras Imortais, tipo um Frodo cansado porém feliz, ou naufragarem congelados, indo para o escuro abissal com a certeza de que cabiam dois naquela porta do Titanic. Vejamos alguns:

  1. Nós nos casamos com a tecnologia e ela às vezes não está pronta para contar a história, construir um universo temático e navegar por ele dentro de níveis aceitáveis de suspensão de descrença;

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  2. A história não escalou para além de seu nicho de origem, funcionando apenas com quem sabe toda a origem de Jean Grey e como isso deu na Crise nas Infinitas Terras;

  3. A história ficou presa em algum tempo e não se chegou a uma atualização convincente, só fazendo sentido para quem tem as referências de determinado corte histórico, conhece as suas implicações ou é afetado por ele;

  4. Apesar de ter tecnologia alinhada com a expectativa de seus realizadores, ter história que se comunica com audiências globais e estar sintonizado com o espírito do seu tempo, foi mal realizado. Sim, Multiverso da Loucura é um bom exemplo.

Mas o fato é que existe outro motivo para produtos de cultura pop darem certo: a integridade de seu criador

E é aqui que motivo e análises de almanaque se encontram com a realidade de hoje do criador dos Perpétuos. Acompanhe.

Os arcos iniciais de Sandman foram lançados no limiar da virada da internet. Como eu e outros amigos em seus 40s e 50s é uma entidade de transição: olha para a estrada do tempo como aquele Inuit que faz uso de seus óculos de madeira delicadamente esculpidos.

Estes aqui. Leia mais sobre no verbete da WikiPedia

Ou seja: a partir de referências pré-digitais, traça um imaginário rico, vívido, contraditório, debochado, dialético, tá… eurocêntrico mas ninguém é perfeito. E o que isso tem a ver com o autor? Como se conecta com a persona/alter ego do próprio Oneiros?

Um mundo em slow content

A provocação de hoje é sobre a importância da resistência: em se manter íntegro e feliz com o estado de avanço tecnológico que se conquistou ou, por falta de imagem melhor, que melhor se adaptou às suas dimensões físicas e temporais.

Para você entender melhor: acredito que muito do fascínio que estamos vivendo com a chegada dos arcos do Plantador de Sonhos na Netflix se deve ao fato de seu autor primordial, Neil Gaiman, praticar certo tipo de slow content em sua relação com o digital que cristalizou determinada maneira de ver as coisas.

Esta maneira se manifesta em algumas características. A que mais me chama atenção é a sua relação com os formatos que utiliza para produzir seu conteúdo complementar e paralelo à sua produção literária. Com um esforço mediano, você é transportado instantaneamente para algum lugar ali pelo final da primeira década do século XXI.

Leio seus blogs há anos. E sempre foram muito ricos, suaves, fluidos e até inspirações para estes projetos que toco há tantos anos. Que nunca decolaram, que nunca ganharam tração mas que se mantiveram íntegros e focados em atender a uma necessidade muito específica: o amor à escrita e mais recentemente, ao ato de clicar no botão de “PUBLISH”.

Estou olhando para ele agora enquanto escrevo, reviso, refraseio e reestruturo a edição de hoje.

Olho para estas duas palavras/comandos há anos em diferentes plataformas e não cansei até hoje. E nem devo.

Gaiman também não se cansa de manter esta inércia positiva. Não se entregou - porque não precisou - ao frenético dos algoritmos, sobretudo os mais vorazes e atuais como Reels e TikTok -, conversa no twitter como se em 2008 ainda estivesse. E tudo bem.

Seu site hoje, ainda que tocado por sua editora, a Harper Collins, vibra nesta mesma estética. Por pouco a gente não ouve um StarTac tocando ao fundo! :)

Enfim, para finalizar por hoje: ao cravar seu nome de vez no mundo dos streamings uma vez que a locadora vermelha é o Prime Time da categoria, nos mostra que nem sempre é preciso ir na velocidade que o mundo determina. Principalmente se, com base em seu talento e dedicação de décadas, você se distingue justamente por saber plasmar os seus próprios.

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Biscoitinhos para a provável audiência

  • Lancei o episódio 4 do She Rocks. Desta vez, Renata Simões entrevistou a cantora baiana Majur. Uma jornada pra lá de diferente. Confiram.

  • Publiquei um artigo no Linkedin falando sobre os desafios de entrevistar profissionais pós-pandêmicos.

  • Voltei com o meu próprio podcast, o projeto mauroamaral.com, que você pode conferir no Spotify.

Era isso. Comentem!

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Suspensão de descrença: é você topar acreditar que um homem que usa a cueca por cima da calça, voa e pode salvar o planeta no lugar de dominá-lo e reinar de forma suprema por toda a eternidade.

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Gabriel Lucas Scardini Barros
Writes Quinze por Dia (QPD), por Gabri…
Aug 10, 2022Liked by mauroamaral.com no Spotify

O Startac apitou aqui! hahahaha

Obrigado pelas considerações, estou com um sentimento meio agridoce com relação à série (e as minhas memórias dos quadrinhos), e ajudou aqui nesse vórtice de pensamentos.

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