Parado esperando o ônibus em São Petesburgo
Rápida imersão e flutuação por impressões de viagem que me afetaram na última semana
Entrego este vídeo à minha provável audiência com um rascunho de pensamento rápido para marcar uma semana um tanto atribulada e, ato contínuo, repito a frase que sempre vem à tona quando o assunto é não cumprir com o fluxo criativo que dá origem à essa newsletter: semana que vem farei diferente.
Faço tudo igual e me encontro às vésperas da preparação de mais uma edição olhando a tela em branco, sucessora ainda mais fria e distante do que um papel e pena ou, vá lá, papel e uma Royal Quiet de Luxe, como Hemingway e os Incas faziam. Mas sigo tentando e relendo meus rascunhos e abas abertas.
Percebo que assunto não falta, mas falta sim aprender a separar melhor aqueles que conectados rendam uma boa história. E me lembro como isso era fácil quando, tudo o que eu tinha era tempo e sessenta e três quilômetros me separando dos afazeres acadêmicos e profissionais no início de carreira.1
Revivo o passatempo preferido: a cada parada (eram 110) buscava novos personagens, conectando histórias a medida que suas aparências indicavam pequenos plots: olha lá, mais uma jornada começada na madrugada quando levantou para trabalhar, esse outro prepara a ida ao cartório para fazer andar pendências com a lei, neste outro, a bolsa amarrada pode indicar que esconde encomendas para uma segunda família…enfim, todo um universo que plasmava e dava vazão a contos, como este aqui.
Acho curioso como isso me conecta com algumas coisas que andei vendo recentemente. Ainda embarcado em executivos expressos que me conectam a dois pontos distantes, vou juntando histórias, tentando achar sentido.
Sinalizo: a edição desta semana é sobre achar sentido.
[PLAY] → PARADO NOS PONTOS
Paro para olhar o trabalho de arqueologia fotográfica de Christopher Herwig, artista canadense que foi atrás da história dos pontos de ônibus da era comunista na União Soviética. O trabalho resultou no documentário Soviet Bus Stops.
Herwig se interessou pela arquitetura única das paradas durante uma viagem de bicicleta de Londres a São Petersburgo em 2002. Ele passou os próximos 12 anos percorrendo mais de 18.000 milhas em 14 países da antiga União Soviética para localizar e registrar essas paradas de ônibus chamativas, criadas como atos sutis de engenhosidade em meio ao controle estatal.
As paradas capturadas pelo artista mostram uma ampla variedade de estilos e tipos originais, desde as formas mais rigorosas do brutalismo até designs exuberantes cheios de cor. O documentário acompanha o fotógrafo canadense durante suas expedições em busca dessas paradas de ônibus, ouvindo enquanto ele busca respostas sobre como essas criações únicas vieram a existir.
Reparo que ao embarcar em uma jornada para rastrear vários dos criadores dessas paradas de ônibus excepcionais, encontra não apenas inspiração, mas também uma convicção renovada de que elas merecem ser preservadas na memória.
[PLAY] → PODCAST RIO MEMÓRIAS
Percebo estar conectado estranhamente as próprias indicações da edição quando como segundo item, relembro que parei para maratonar as três primeiras temporadas do podcast Rio Memórias.
O projeto de narrativa em áudio apresentado pela historiadora Gabriela Montoni é um dos produtos de conteúdo do Instituto Rio Memórias que tem por missão preservar a história da cidade. Faz isso de forma hipermidiática e quase sinestésica, na forma de infográficos, artigos, galerias virtuais e, claro, os programas com incrível pesquisa sonora, roteiros e narrações leves e divertidas.
Lembro como é reconfortante em um mundo de mesacasts caóticos e sem narrativa, ser surpreendido com um roteiro bem escrito e que usa o som para conectar com o passado, o presente e o futuro da cidade que tanto amamos odiar.
(Sim, só carioca pode falar mal do Rio, mermão)
Para ser justo, Gabriela não está sozinha. Sua equipe conta com Rodrigo Alves na coordenação e roteiro, Thales Ramos na supervisão de roteiro, Jamille Bullé como produtora, Clara Costa na ótima edição e sonorização e Gabriel Falcão nas trilhas sonoras originais.
Lembro como eram originais as trilhas sonoras que ouvia também em minhas próprias perambulações no Centro da Cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro, em caminhadas que me levaram por diversas fases da vida, a partir de 1988. Sim, sou desta idade. Aos 15 anos, como aluno no curso técnico de música na Escola Nacional; aos 22 como universitário na Federal, aos 30 como editor web em sites e portais, aos 40 como empresário, aos 50 como…um calendário de lembranças.
Como aquelas que revisitei ao dar play em outro episódio de outro programa, este com a minha participação, debatendo um livro e a obra de Rubem Fonseca, que, não por coincidência retratou andanças pelo centro carioca em contos como “O Buraco na Parede”. Pareço viajar no tempo…
[READ] → CONTRATEMPOS DE SE VIAJAR NO TEMPO
…como nos contou James David Nicoll, um dos colunistas do excelente site TOR2, sobre os dilemas dos viajantes temporais. Seja na literatura, no cinema ou na vida de todo dia; o tempo é um conceito complexo que guarda um dilema particular para quem fizer (fará, fez, faz?) dele seu ambiente criativo.
Pense que o tempo pode ser mutável ou fixo, e que, independentemente da opção escolhida, as consequências de uma viagem no tempo são sempre inquietantes.
Se fixo, tudo o que você fizer não resultará em melhoria. Mas, desta forma, você também não pode piorar o que já está dado. Em contrapartida, se o tempo for de fato mutável, variável, você pode evitar que o Titanic afunde; mas também que os mísseis da crise d Baía dos Porcos sejam, de fato, lançados. Percebeu?
Para ajudar a dar contexto à tese, James trouxe cinco livros que trabalham de forma diferente esse dilema. Aqui, trago três:
"Os Homens Que Assassinaram Maomé" de Alfred Bester é uma obra de ficção científica que conta a história de um cientista que, ao descobrir a traição de sua esposa, decide voltar no tempo para mudar a história de sua família. No entanto, suas ações acabam por ter graves consequências não esperadas.
"Operação Busca no Tempo" de Andre Norton é outro livro de ficção científica que explora as consequências de uma viagem no tempo. Neste caso, os protagonistas tentam resolver os problemas de escassez de recursos no futuro, mas acabam enviando um fotógrafo para o passado, onde ele se vê envolvido em uma batalha entre as civilizações de Atlântida e Mu.
"Timescape" de Gregory Benford é uma obra de ficção científica que apresenta uma história sobre o impacto das mudanças climáticas na humanidade. Nesta história, os personagens tentam enviar mensagens para o passado para evitar uma catástrofe global, mas acabam descobrindo que isso pode ter consequências imprevisíveis.
Esses livros e outros indicados no site, trazem reflexões interessantes sobre as consequências de nossas ações e como o tempo pode ser um fator determinante em nossas vidas.
[PLAY] → EU SOUBE NA HORA PARA QUE SERVIRIA AQUELA CORDA
Fecho o final de semana dando [PLAY] do “My name is Otto”, com Tom Hanks. E só mesmo um dos melhores atores do século XX para me tirar do lugar. Sem medo de dar spoiler tem um detalhe tão sutil na trajetória (e drama) do protagonista que só depois dos créditos subindo me toquei. Você pode ver na HBO MAX e depois vir nos comentários me perguntar qual foi? →
Antes de ir…biscoitinhos para a minha provável audiência:
Vale aqui um adendo: sim, vai rolar um turning point para falarmos de A.I. Sigo pesquisando sobre o tema. Vocês vão notar um recorte específico e é isso… ;)
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